Inteligência Aprisionada
Desenvolvimento
da abordagem clinica da criança e sua família que permeiam o processo
dos problemas de aprendizagem. A estrutura de toda instituição, tem como
função a conservação de uma experiência recebida como um olhar clínico
sobre a aprendizagem e suas fraturas principalmente na abordagem e na
conceitualização de sua aprendizagem e sua ruptura.
Essa
abordagem trata-se de de recuperar as vantagens que este âmbito no qual
a criança vive apesar de suas carências e assim inversamente ver o que
podemos inclui no processo de ensino-aprendizagem, muitas crianças
mostram a sua criatividade encapsulada.
O
não aprender as vezes tem uma função positiva, da-lhe certo prazer,
permite barganhar em algumas situações, não se pode interpretar um
problema de aprendizagem sem saber aonde ele esta preso, no simbólico,
para tal é necessário observar o funcionamento cognitivo.
Devemos saber enxergar as dificuldades trazidas pelas crianças, e da mesma forma ajudá-la a superá-la.
Um
diagnóstico precoce tem eficácia para o paciente. A função da educação
pode ser alienante ou libertadora, depende de como for usada.
O
sintoma problema da aprendizagem é a inteligente aprisionada
construindo de forma constante seu aprisionamento. não é característica
da inibição a alteração no pensar, mas evitar o pensar.
os
sistemas familiares estruturados e estruturantes de indiferença são um
terreno fértil para a gestação de sintomas na aprendizagem. reconhecendo
a importância desses aspetos é necessário ajudar as crianças a se
libertarem para a aprendizagem. identificar sempre as dificuldades
apresentadas pelas crianças, no processo ensino aprendizagem.
Alicia
Fernàndez em "A inteligência aprisionada" nos traz a percepção para
além da via, da estrada, aguçando nosso olhar para uma concepção de
processo da aprendizagem em que
o
ensinante** - portador do conhecimento - estabelece uma relação entre
este e o aprendente*** - sujeito pensante e portador de sua inteligência
- através de seus vínculos firmados.
Esta
relação é permeada por alguns fatores que, quando postos em jogo,
proporcionam o aprendizado. São eles: "seu organismo individual herdado,
seu corpo construído especularmente, sua inteligência auto-construída
interacionalmente e a arquitetura do desejo, desejo que é sempre desejo
do desejo de Outro".
Para
se compreender a questão ‘como é que se aprende’, é necessário ter em
mente que a presença do ensinante** e do aprendente*** é fundamental, e o
vínculo que se estabelece entre ambos é essencial.
Segundo
Sara Paín, psicopedagoga argentina que muito influenciou Alicia
Fernàndez: “A aprendizagem é um processo que permite a transmissão do
conhecimento de um outro que sabe a um sujeito que vai chegar a ser
sujeito, exatamente através da aprendizagem”.
O
ensinante** pode transformar o ensinar em conhecimento, através de
quatro instâncias de elaboração (orgânica, corporal, intelectual e
desejante) e somente ao integrar-se ao saber, o conhecimento é aprendido
e pode ser utilizado.
O sujeito da aprendizagem possui um saber que o sustenta.
Um saber que é produto de sua busca pelo conhecimento, pelo aprender.
O
processo da aprendizagem acontecerá mediante a articulação de quatro
instâncias: desejo, inteligência, organismo e corpo. Estas quatro
instâncias constituem o sujeito aprendente***, que por sua vez se
constroem ou se instalam através de uma inter-relação constante e
permanente com o meio familiar e social.
Enfim,
Alicia Fernàndez nos trouxe uma dimensão humana para a concepção de
sujeito da aprendizagem em que o cuidado ao tratar de tal questão se
torna evidente até na escolha dos termos que caracterizam os sujeitos
envolvidos neste processo, nos demonstrando que são muito mais que
professor-aluno, pai-filho, irmã-irmão, ..., e, são, sim, ensinante** e aprendente***
Novamente
enfatizamos que a aprendizagem é um processo em que intervêm a
inteligência, o corpo, o desejo, o organismo, articulados a um
determinado equilíbrio, mas a estrutura intelectual necessita também de
um equilíbrio para estruturar a realidade e sistematizá-la. Isso
acontece através de dois movimentos que Piaget definiu como: assimilação
e acomodação.
Assimilação
é o movimento do processo de adaptação pelo qual os elementos do
ambiente alteram-se para ser incorporados à estrutura do organismo.
Acomodação
é o movimento do processo de adaptação pelo qual o organismo altera-se,
de acordo com as características do objeto com o qual se relaciona.
Para
Alicia Fernàndez estes movimentos de adaptação proporcionam a
arquitetura para a atribuição simbólica de significações pessoais aos
processos de aprendizagem individuais.
O
organismo se sustenta e cresce por meio das relações que faz com o
ambiente no qual está inserido. A partir dessas relações ele consegue se
adaptar (utilizando-se dos movimentos acima mencionados). Para que
ocorra uma adaptação inteligente é necessário que a acomodação e a
assimilação se encontrem em equilíbrio sem que uma predomine
excessivamente sobre a outra.
Sara
Paín observa a constituição de diferentes modalidades nos processos
representativos que interferem na formação deste equilíbrio. Podem ser
descritos como: hipoassimilação/hiperacomodação,
hipoacomodação/hiperassimilaçãoA presença dessas modalidades interfere
nas respostas produzidas pelo organismo em sua relação com o meio e
conseqüentemente interfere no processo da aprendizagem.
Uma
aprendizagem normal supõe uma modalidade de aprendizagem na qual se
produza um equilíbrio entre os movimentos assimilativos e acomodativos.
Aprender é apropriar-se, apropriação que se dá a partir de uma elaboração objetivante e subjetivante.
A
elaboração objetivante permite apropriar-se do objeto ordenando-o e
classificando-o. A elaboração subjetivante tratará de reconhecer e de
apropriar-se desse objeto a partir das experiências que o sujeito tem
sobre este objeto. Esta dinâmica acontece a partir da articulação das
quatro instâncias que constituem o sujeito (desejo, inteligência,
organismo e corpo) e do vínculo que este sujeito estabelece com o outro
(ensinante** e aprendente***).
Vale
a pena ressaltar a frase inserida no livro “O saber em jogo”, de Alicia
Fernàndez: “Aprender é quase tão lindo quanto brincar”.
O
aprender acontece de forma gradativa, vai construindo o seu saber,
investigando, brincando e criando. Tendo ao seu lado um ensinante**
pronto a colaborar, atento as suas necessidades e expectativas. Alguém
que valoriza suas experiências e descobertas e que lhe
dá a liberdade para ser, criar e conquistar.
Problema de Aprendizagem
Problemas
de aprendizagem se apresentam na ordem de causas externas à estrutura
familiar e individual do que fracassa em aprender ou na ordem de causas
internas à estrutura familiar e individual.
É
chamado de problema de aprendizagem reativo ao problema de causas
externas à estrutura familiar, que não chegam a aprisionar a
inteligência e, para serem trabalhadas na prática, deveríamos ter
professores ensinando com prazer e proporcionando prazer para seu aluno
ao aprender. Isto seria possível, inicialmente, com criação de planos de
prevenção nas escolas visando não só este objetivo, mas também o
desenvolvimento do psicopedagogo/educador, quando o fracasso escolar
está posto, deve ter a postura de indicar caminhos e meios de ação que
favoreçam a não constituição de um sintoma neurótico em relação ao
fracasso do ensinante** que encontra empatia no sujeito e sua família.
A
postura do psicopedagogo/educador frente ao fracasso escolar que provém
de causas internas à estrutura individual e familiar do sujeito e que
se expõe através de sintoma ou inibição terá de ser especializada,
voltada para o sujeito, mãe, com meios de atuação e atividades
específicos. Já que este problema de aprendizagem afeta a dinâmica
individual, interferindo na articulação entre as instâncias da
inteligência, do desejo, do organismo e do corpo, levando ao
aprisionamento da inteligência e da corporeidade. É aí que a atuação do
psicopedagogo/educador deve se centrar, buscando a transformação.
O
sintoma-problema da aprendizagem é o que impõe o aprisionamento do
aprender através de desejos inconscientes. Há a possibilidade, mas não
há o desejo. Quando falamos de problema de aprendizagem reativo, vemos
que pode haver o desejo, mas não oportunidade.
Esta
questão de problema de aprendizagem está intimamente relacionada às
questões sociais e requerem do psicopedagogo/educador novas posturas
frente a tais questões e também iniciativas de prevenção.
A
compreensão da dimensão social do problema de aprendizagem nos ajuda a
diferenciar seu caráter sintomático/inibidor como o que o sistema
sócio-educativo proporciona (tirando as possibilidades de aprender).
Não
há regras a respeito deste tema. Pode-se ter evidências de problema de
aprendizagem em instituições consideradas excelentes e não se demonstrar
casos em ambientes sem estímulos ou ínfimos em relação ao seu sistema
educativo.
Existem três formas possíveis de manifestação individual do problema de aprendizagem:
A
primeira é o problema de aprendizagem-sintoma o sintoma é o mostrar-se
inconscientemente e, para o seu entendimento é necessário o estudo
acerca da história do sujeito, que nos dará aquilo que faz a “amarra
simbólica”. Assim, possibilitará a eliminação do sintoma, também
compreendido como um “disfarce de si mesmo”, que aprisiona a
inteligência, a capacidade de aprender, propriamente dita.
Esta
é a particularidade do sintoma na aprendizagem: aprisionar a
inteligência que não é parte do corpo e sim parte do inconsciente e a
aprendizagem é função em que participam as estruturas inteligentes e
desejantes, inconscientes.
Podemos
e devemos apontar os caminhos para que “solte-se” a inteligência
aprisionada, mas temos que saber que o próprio sujeito, e só ele, dará o
primeiro passo em busca da sua “liberdade”.
O
segundo problema de aprendizagem está centrado na exibição cognitiva
menos comum que os sintomas, requer um “aparato psíquico mais
evoluído”. Caracterizando-se pela evitação ao contato com o objeto do
pensamento. Não se altera o pensar, mas sim, evita-se pensar, assim como
se evita o aprender. O psicopedagogo/educador encontrará mais
dificuldade para lidar com a inibição cognitiva do que com o sintoma, e
sua abordagem deverá ser diferente.
Na
inibição, a modalidade de aprendizagem apresenta-se como
hipoassimilação/hipoacomodação enquanto que no sintoma a modalidade de
aprendizagem refere-se ao conflito e desequilíbrio, mostrando-se como
hiperassimilação/hiperacomodação ou vice-versa.
O
terceiro problema de aprendizagem chamamos de fracasso escolar por
problema de aprendizagem reativo determinado por fatores externos ao
sujeito, demonstra-se na instituição sócio-educativa, que expulsa o
aprendente* e promove o repetente exitoso, que se acomoda ao sistema,
reproduz, não exerce a autoria, porém vence através da repetição do que
outros querem, e o fracassante, que não tem o seu saber reconhecido, que
o fracasso é um problema é um problema reativo a um sistema que não os
aceita e é obrigado a acumular conhecimentos.
Vemos
aí uma teia de significações em que o psicopedagogo/educador deve se
posicionar a fim de que o aprendente*** possa transformar e libertar sua
inteligência até então aprisionada.