sábado, 25 de maio de 2013

Epistemologia Convergente-Jorge Visca



Epistemologia Convergente


Jorge Visca  ( 1935 a 2000), nasceu na Argentina e  graduou-se em Ciências da Educação e Psicologia Social. Desenvolveu importantes estudos,  durante a jornada acadêmica, tanto em seu país, como no exterior. No Brasil  notabilizou-se por haver  contribuído na formação da primeira geração de psicopedagogos. Esse fato tem como alicerce a experiência adquirida em sala de aula, como professor, em escolas do ensino fundamental e médio, na Argentina,  propiciando-lhe uma ampla compreensão dos problemas de aprendizagem.
Foi um dos primeiros psicopedagogos que se preocupou com a epistemologia da psicopedagogia, e isto o levou a estudar o processo do aprender, desde os movimentos iniciais de comunicação entre o professor e o aluno, até chegar ao processo da  aquisição da aprendizagem. Questionou o por quê  algumas pessoas compreendem facilmente uma informação e outras  as interpretam de uma maneira totalmente diferente ou erroneamente.  Como o sujeito da aprendizagem pode  perceber  a dinâmica desse  processo ? Como o  professor/psicopedagogo  pode contribuir para a aprendizagem, considerando as diferenças individuais?
Ofereceu cursos e supervisões na área da Psicopedagogia,em vários pontos do país e no exterior, ajudando a formação e especialização desses profissionais. Fundou o Centro de Estudos Psicopedagógicos de Buenos Aires, em 1977,  e mais tarde,  no Rio de Janeiro, Salvador e Curitiba. Ainda em 1980, participou da criação da  Associação de Psicopedagogos de São Paulo, e, 1985, da Associação Brasileira de Psicopedagogia.  
Experiências significativas realizadas em sua militância acadêmica, culminaram com a criação da Epistemologia  Convergente (1965), considerada um método clínico, destinado ao processo de  Diagnóstico e Intervenção, para diferentes faixas etárias.   
O paradigma da Epistemologia Convergente está fundamentada em três linhas teóricas: a Psicanálise, a Psicologia Social e a Epistemologia Genética. Os principais representantes da  primeira linha teórica foram Ana Freud  e Melanie Klein  que se dedicaram a estudar crianças e, posteriormente, adolescentes focalizando as questões do inconsciente e suas representações. Na segunda linha teórica, Jorge Visca  fundamenta-se em Pichon Rivière, que considera o estabelecimento do vínculo como o principal atributo no processo da aprendizagem, caracterizando a formação do  grupo operativo como uma unidade de funcionamento na  aplicação no campo psicoterapêutico  e na educação.  A  epistemologia genética  idealizada por Piaget, complementa  a terceira vertente no embasamento da Epistemologia Convergente. Piaget iniciou seus estudos utilizando o método clínico ou crítico, com o objetivo de observar a lógica, tanto nas ações como das operações desenvolvidas e, na seqüência de suas pesquisas, houve a transformação dos testes psicométricos em provas operatórias para garantir a intenção epistemológica  e a hipótese diretriz de seus trabalhos. (Visca, 1987, p.15).
A Epistemologia Convergente procura compreender a contribuição dos aspectos afetivos, cognitivos e do meio sócio educacional, no processo da aprendizagem do indivíduo e as possíveis dificuldades apresentadas, tendo como base, a integração dos conhecimentos da psicologia genética, da psicanálise e da psicologia social.  A articulação entre as dimensões afetivas e cognitivas do indivíduo só se completam no estabelecimento da  relação contínua dessas dimensões com o meio  onde o indivíduo vive, formando uma unidade, um sistema com características únicas. É nesse patamar que o psicopedagogo precisa atuar, ou seja, propiciar condições para que o aprendiz construa seu conhecimento tomando como referencial uma postura reflexiva , isto é ´de revisão pessoal, visando `a possibilidade da construção de novos valores, de novas concepções. Outro fator importante nessa construção é a mediação junto ao aprendiz,  para que este, tenha a possibilidade de expressar suas idéias no grupo desbloqueando elementos imobilizadores inconscientes que estiveram impedindo este crescimento pessoal.
 A estrutura do método contempla os seguintes itens( Visca,1987)
1. ENQUADRAMENTO
  • Conhecer critérios teóricos para fixar o enquadramento psicopedagógico.
  • Integrar os conhecimentos da epistemologia genética com os da psicologia dinâmica em função do enquadramento.
  • Formar critérios de avaliação do agente corretor e do sujeito corrigido.

2. CONTRATO
  • Conhecer os distintos tipos de contrato em função do tempo e do ambiente.
  • Estabelecer critérios que permitam determinar relações entre o contrato e os princípios sanitaristas de promover saúde e prevenir a doença.

3. DIAGNÓSTICO
  • Conhecer os fundamentos do diagnóstico psicopedagógico.
  • Criar critérios para a administração de uma bateria mínima.
  • Capacitar para diagnosticar dificuldades de aprendizagem

4. GNOSIOLOGIA
  • Formar critérios de saúde e doença no campo psicopedagógico sobre a base de conceitos sociológicos, antropológicos, psicológicos e pedagógicos.
  • Determinar distintas unidades de análise para estudar o vetor de personalidade da aprendizagem.

5. PROCESSO CORRETOR
  • Situar o papel do psicopedagogo no contexto dos profissionais.
  • Conhecer os diferentes recursos da técnica em sua aplicação individual e grupal.
  • Exercitar no manejo conceitual, emocional e prático de técnicas corretoras.

Visca( 1985) em seu livro “Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente” detalha o processo a ser desenvolvido para garantir a fidedignidade dos procedimentos a serem adotados no transcurso do Diagnóstico e Intervenção.
 Um recurso utilizado diz respeito às “Técnicas Projetivas Psicopedagógicas – pautas gráficas para sua interpretação” – que pretende  investigar a dimensão da afetividade no processo da aprendizagem, ou seja, o estabelecimento dos vínculos e as circunstâncias dentre as quais esta construção se opera( Visca,2008, compilado por Rozenmacher).
A dimensão cognitiva é fundamentada e detalhada no “ Diagnóstico Operatório na Prática Psicopedagógica” na descrição das provas operatórias elaboradas por Piaget e seus colaboradores, entre eles, Balder Inhelder que preocupou-se em  na formalização das provas com descrição didática destinado aos estudiosos da Psicologia e  Psicopedagogia,  tanto em nível institucional como clínico( Visca,2008, compilado por Rozenmacher).
As duas dimensões citadas acima serão descritas em material a parte, para possibilitar o desenvolvimento da prática, com análise do conteúdo teórico.

Referências Bibliográficas
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987
VISCA, Jorge. Técnicas Projetivas Psicopedagógicas e pautas gráficas para sua interpretação. Buenos Aires: Visca & Visca,2008.
VISCA, Jorge. O Diagnóstico Operatório na prática Psicopedagógica. São José dos Campos:

A Teoria do vínculo-PICHON RIVIVIÈRE


 TEORIA DO VÍNCULO

Para Pichon, grupo operativo é um instrumento de trabalho, um método de investigação e cumpre, além disso, uma função terapêutica, pois, se caracteriza por estar centrado, de forma explícita, em uma tarefa que pode ser o aprendizado, a cura, o diagnóstico de dificuldades, etc...
Sua teoria tem como premissa principal o indivíduo inserido em um grupo, percebendo a intersecção entre sua história pessoal até o momento de sua afiliação a este grupo (verticalidade), com a história social deste grupo até o momento (horizontalidade). "A verticalidade e a horizontalidade do grupo se conjugam no papel, necessitando a emergência de um ou mais porta-vozes, que, ao enunciar seu problema, reatualizando seus acontecimentos históricos, denuncia o conflito da situação grupal em relação à tarefa."(Osório,1991)
Pichon caracteriza grupo como um conjunto restrito de pessoas, que, ligadas por constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna, propõe-se, em forma explícita ou implícita, à uma tarefa que constitui sua finalidade. Dentro deste processo, o indivíduo é visto como um resultante dinâmico no interjogo estabelecido entre o sujeito e os objetos internos e externos, e sua interação dialética através de uma estrutura dinâmica que Pichon denomina de vínculo.
Vínculo é definido como "uma estrutura complexa que inclui um sujeito, um objeto, e sua mútua interelação com processos de comunicação e aprendizagem." (Pichon, 1988)
Ao elaborar a teoria do vínculo, Pichon a diferencia da teoria das relações de objeto concebida pela Psicanálise (que descreve as possíveis relações de um sujeito com o objeto sem levar em conta a volta do objeto sobre o sujeito, isto é, uma relação linear), propondo, então, o estudo da relação como uma espiral dialética onde tanto o sujeito como o objeto se realimentam mutuamente.
É sempre uma situação em forma de espiral contínua, onde o que se diz ao paciente por exemplo-interpretação, no caso de um vínculo terapêutico- determina uma certa reação do paciente que é assimilada pelo terapeuta que, por sua vez , a reintroduz em uma nova interpretação.

A teoria do vínculo também pode ser enunciada como uma estrutura triangular, ou seja, todo o vínculo é bi-corporal, mas como em toda a relação humana, há um terceiro interferindo, olhando, corrigindo e vigiando (alguns aspectos do que Freud chamou como complexo superego). Esta estrutura inclui no esquema de referência o conceito de um mundo interno em interação contínua, origem das fantasias inconscientes.
" A fantasia inconsciente é então produto de interações de vínculos entre os objetos do grupo interno, que pode condicionar uma imagem distorcida em distintos graus do mundo exterior, particularmente do papel do outro cuja percepção está portanto determinada por situações de reencontro de objetos desse grupo interno."
À partir daí e do processo de interação grupal que surgem as fantasias básicas universais do grupo, que segundo Pichon, bloqueiam a atividade grupal no momento da pré-tarefa, determinando a utilização de técnicas defensivas (à partir da presença dos medos básicos, ansiedade de perda e ataques) que estruturam o que se denomina resistência à mudança. É então no momento da tarefa que acontece a abordagem e elaboração das ansiedades, e que se efetua um salto por somação quantitativa de insight através do qual se personifica e se estabelece uma relação com o outro (diferenciado).
O grupo operativo age então de forma a fornecer aos participantes, através da técnica operativa, a possibilidade de sedarem conta e explorar suas fantasias básicas, criando condições de mobilizar e romper suas estruturas estereotipadas. Daí a importância da análise da vínculo tanto em termos intersubjetivos como intra-subjetivos para permitir um aprofundamento no estudo da interação grupal.
Pichon, concebe o vínculo como uma estrutura dinâmica em contínuo movimento, que engloba tanto o sujeito como o objeto e afirma que está estrutura dinâmica apresenta características consideradas normais e alterações interpretadas como patológicas. Considera um vínculo normal aquele que se estabelece entre o sujeito e um objeto quando ambos têm possibilidades de fazer uma escolha livre de um objeto, como resultado de uma boa diferenciação entre ambos.
"Em nenhum paciente apresenta um tipo único de vínculo: todas as relações de objeto e todas as relações estabelecidas com o mundo são mistas. Existe uma divisão que é mais ou menos universal, no sentido de que por um lado se estabelecem relações de um tipo, e por outro, de um tipo diverso". ( Pichon-Riviére, 1991) Sendo assim, uma pessoa pode estabelecer um vínculo paranóico por um lado, e por outro um vínculo normal ou ainda um vínculo tendendo à hipocondria, isso porque as relações que o sujeito estabelece com o mundo são variadas, bem como as estruturas vinculares que utiliza.
O vínculo se expressa em dois campos psicológicos: interno e externo. É o interno que condiciona muito dos aspectos externos e visíveis da conduta do sujeito. O processo de aprendizagem da realidade externa é determinado pelos aspectos ou características obtidas da aprendizagem prévia da realidade interna, a qual se dá entre o sujeito e seus objetos internos.
O vínculo não necessariamente se dá de forma individual (duas pessoas), ele pode se dar de forma grupal, chegando a se estender a uma nação, o qual pode ser influenciado pelas mesmas características as quais influenciam um vínculo estabelecido com duas pessoas ( vínculo individual ).
A respeito dos conceitos de papel e vínculo, Pichon (1991) afirma que esses conceitos se entrecruzam e por isso uma terapia centrada nesse sentido deve abordar tanto a estrutura do vínculo, como os diversos papéis, os quais terapeuta e paciente se atribuem. Logo, o papel se inclui na situação do vínculo. Ele se caracteriza por ser transitório e possuir uma função determinada, a qual pode aparecer em um determinada situação e em cada pessoa de forma particular. Ou seja, a forma como lidamos com determinados contextos concretos influenciará a nossa atitude; de uma maneira mais simples as várias formas de lidarmos com os problemas, a isso Pichon atribui a denominação de papéis. Dessa forma, para Pichon o papel do coordenador no grupo operativo é o de " coopensor", isto é aquele que pensa junto com o grupo, ao mesmo tempo que integra o pensamento grupal, facilitando a dinâmica da comunicação grupal.
Dessa forma, com a Teoria do Vínculo, Pichon considera o indivíduo como uma resultante dinâmica, não da ação dos instintos e objetos interiorizados, mas sim do interjogo estabelecido entre sujeito e os objetos internos e externos por meio de uma interação dialética, a qual pode ser observada através de certas condutas.

Bibliografia

  • PICHON-RIVIÈRE, Enrique. Processo Grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
  • ZIMERMAN, David e OSÓRIO, Luis Carlos. Como Trabalhamos com Grupos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
  • BAREMBLITT, Gregório. Grupos, Teoria e Técnica. Graal/Ibrapsi: Rio de Janeiro, 1982.


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quinta-feira, 23 de maio de 2013

A Relação da Psicopedagogia com a Psicomotricidade

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

A psicopedagogia como ciência tem se desenvolvido ao longo do século XIX, com vultos isolados ao longo da Europa, como Jacques Lacan, Maud Mannoni, Fraçoise Doito, Janine Mery, franceses, e na América do Sul com os argentinos, George Mauco, Pichón-Riviére, que procuraram sistematizar essa ciência tão nova para a humanidade.
A Psicopedagogia não nasceu aqui e nem tampouco na Argentina, investigando a literatura sobre o tema, podemos verificar que a preocupação com os problemas da aprendizagem teve origem na Europa, ainda no século XIX. Inicialmente, pensarem sobre o problema os filósofos, os médicos e os educadores. (BOSSA, 1992).
Como disciplina de ensino superior é vista como interdisciplinar, pois, possui multifacetas de várias disciplinas que se interligam de forma concreta.
A ciência psicopedagógica é tão nova que a Associação Brasileira de Psicopedagogia está lutando diante do Ministério da Educação para profissionalizar o psicopedagogo, que até hoje ainda, não possui um reconhecimento como profissional especializado na ciência pedagógica, assim como é o psicólogo e o pedagogo.
A tarefa nesse trabalho científico é mostrar parâmetros simétricos entre psicopedagogia e psicomotricidade, o que possui em comum, ou ainda o que uma ciência pode contribuir para a formação da outra.
Para entender essa relação entre psicopedagogia e psicomotricidade, será em primeiro lugar discutido os aspectos relevantes da psicomotricidade, para depois serem analisados os psicopedagógicos, para que, no final do trabalho seja feita uma relação mais apurada entre as duas disciplinas.
O indivíduo ao nascer, não começa já andando, precisa de algum tempo para fortalecer os seus músculos, equilibrar-se, enxergar perfeitamente todo o seu campo visual, ter noções de percepção, resposta, estímulo, enfim, ter aspectos cognoscíveis, para a sua educação motora.
Progride criteriosamente de uma forma motora, onde cada gesto, observação, movimento, tem um valor e significado dentro da Educação Psicomotora, onde, grande parte do seu desenvolvimento cognitivo, está ligada a psicomotricidade.
Pois bem, o que vem a ser então a Educação Psicomotora? É a ciência que vai estudar os fenômenos psicológicos e motores interligados a educação, pois, se o desenvolvimento motor, não for corretamente realizado, trará problemas futuros para criança e reflexos pelo resto de sua vida.
A palavra “Educação” é a parte da disciplina que se encarrega de tratar dos aspectos formais da inteligência humana, trabalhando, sobretudo de maneira pedagógica, para aturar no campo da aprendizagem do aprendente.
O prefixo “Psic” é a outra parte da disciplina que irá estabelecer parâmetros ligados a “mente”, ao funcionamento do cérebro e suas implicações psicológicas para a concretização da educação.
O sufixo “motor”, é o elemento imprescindível nessa disciplina, haja vista, ser ele o aspecto de maior relevância no objeto do estudo, haja vista, ser aquele ligado a parte do movimento, ação, dinâmica do corpo, que, está unido ou interligado aos outros dois, pois, cada palavra ou parte que compõe a disciplina estabelecem entre si uma relação de simbiose, para o seu perfeito aperfeiçoamento e funcionamento.
A Educação psicomotora é tão importante na vida da criança, que tanto os pais como a escola, devem se preocupar com esse ensino, pois, a formação do ser, poderá estar comprometida se não for acompanhado.
DESENVOLVIMENTO MOTOR
Como anteriormente foi falada na introdução a parte motora, está ligado ao movimento, entretanto, para que ele seja concebido, estabelecido precisa ser realizado de modo temporal, ou, seja há seu tempo.
Não adiante os pais, por exemplo, “querer que o seu filho ande antes dos dez meses de idade”, pois, isso poderá prejudicar o desenvolvimento motor dessa criança, por conseguinte, o seu crescimento de forma ordenado.
O desenvolvimento motor é um processo gradual, onde cada fase do crescimento exige um gesto ou movimento, para que se processe de modo psicológico na formação do ser.
A criança precisa de certos vínculos para que o seu desenvolvimento aconteça de forma compatível como:
a) maturação – irá se relacionar com os aspectos físicos e biológicos do corpo, pois, o crescimento do organismo, é feito de maneira muitas vezes parecida de indivíduo para indivíduo e já em outros casos de maneira análoga, por isso, não se deve acelerar o processo, pois, cada organismo reage de forma diferente entre si.
Em contraste com a psicopedagogia a maturação dependerá dos pais e da escola para fornecer elementos essenciais para o crescimento do corpo, como a amamentação da mãe a criança, a alimentação do dia, a merenda, todos, são compostos fundamentais para a maturação.
b) ambiente – o local fisco onde a criança vai utilizar para dormir, brincar, comer, viver, precisa ser “estimulante”, ou seja, repleto de símbolos e significados que pode decifrar com a sua inteligência, caso contrário, ficará uma parcela ausente de sua cognição, em virtude desse ambiente pobre de elementos importantes ao seu estímulo para o desenvolvimento motor.
A evolução das estruturas psicomotoras depende da tonicidade, equilibração,  imagem e esquema corporal, lateralidade, organização espacial-temporal,  coordenação motora geral coordenação motora fina.
A Tonicidade está ligada diretamente ao Tônus muscular, aos músculos, a a parte do apoio do corpo.
O Equilibro voltado para o controle da postura corporal.
A Imagem e o esquema corporal representam a própria percepção do corpo e dos corpos, e objetos que o cercam.
A Lateralidade como a representação do corpo por um lado, esquerdo ou direito, ou ainda ambos os lados, tendo a predominância por um desses lados quando os movimentos se iniciam, ou a perfeição da utilização dos dois lados.
Organização espacial-temporal é a tomada de consciência do seu corpo no espaço, seria a própria consciência de si mesmo, seu tamanho, posição, distância.
Coordenação motora geral compreende a junção de todos os movimentos gerais do corpo como um todo, a completa harmonia entre os movimentos.
Coordenação motora fina são os movimentos mais refinados, que compreendem alguns pequenos grupos de músculos, como, lingual, labial, ocular.
Todas essas estruturas acima citadas são componentes fundamentais para atuação do corpo no espaço, sendo a educação psicomotora responsável pelo estudo de cada atividade dessa separada.
O psicopedagogo é o profissional que entende que a criança precisa se desenvolver sua motricidade através do ambiente físico, descobrir os valores dos símbolos da cada componente desse espaço e o seu significado.
Segundo Assunção & Coelho (1997, p.108) a psicomotricidade é a “educação do movimento com atuação sobre o intelecto, numa relação entre pensamento e ação, englobando funções neurofisiológicas e psíquicas”.
Além disso, possui uma dupla finalidade: “assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta as possibilidades da criança, e ajudar sua afetividade a se expandir e equilibrar-se, através do intercâmbio com o ambiente humano”.
A criança se desenvolve a partir da interação com os objetos, que ela inicialmente coloca na boca, depois, através do tato, cheiro, e só então saberá o que representa para si e para o mundo que o rodeia.
Talvez um pai não saiba que um “xiqueirinho” impõe limites no campo de articulação, movimentos da criança, pois, ao que parece, a criança necessita de espaço para se relacionar com o mundo, e campo vasto para se situar no espaço.
Segundo pesquisas realizadas em Nova Yorque (Reuters Health) demonstram que o andador pode atrasar o desenvolvimento das crianças engatinhar, ficar de pé, sozinha ou andar, conforme a citação da British Medical Journal, e também pelo fato de graves acidentes causados, pois, muitas crianças se lesionavam gravemente ao cair da escada com o andador
No ano passado a Academia Americana de Pediatria pediu proibição de andadores infantis nos Estados Unidos. No novo estudo, pesquisadores irlandeses entrevistaram os pais de 190 bebês que usavam andadores e estavam desenvolvendo capacidades motoras. Eles verificaram que 102 crianças que usavam o aparelho eram, como grupo mais lentas para começar a engatinhar, ficar de pé ou andar sozinha. Por exemplo, os bebês com os andadores ficaram em pé sozinhos aos 13 meses, em média, três a quatro semanas depois do que aqueles que não usavam o aparelho ( British Medical Journal, 2002).
c) ações neuromotoras – Relaciona-se com ação em conjunta da maturação e o ambiente, ou seja, são os “momentos vividos”, ações neuromotoras, que correspondem aos movimentos propriamente ditos, monitorados pelo cérebro, que são percebidos em primeira parte através dos “instintos” ou “reflexos”, haja vista, que a criança antes dos dois anos ainda não apresenta cognição, segundo Piaget.
Por isso, que o estímulo do ambiente é importante para formação motora desse indivíduo.
Um exemplo de como o desenvolvimento motor é importante, para a criança e suas implicações, que muitas vezes ações erradas, mesmo com intenção em ajudar ser tornam prejudiciais para o campo neuromotor.
Como por exemplo, uma mãe que compra um “andador”, para auxiliar na locomoção da criança, existe uma explicação para que esta atitude seja errada, tanto pela psicomotricidade quanto pela psicopedagogia, pois, os referidos objetos que são vendidos em lojas infantis, não apresentam nenhuma restrição quanto à sua utilização.
O andador não é recomendado pelas duas ciências, até aqui discutidas, pelo simples motivo, de não estimular o equilíbrio, a queda, que são estimulados através do cérebro, para os membros inferiores e superiores.
O cérebro por sua vez vai traduzir o perfeito equilíbrio e as sucessivas quedas, através das várias tentativas de ficar em pé ou cair para a criança, que está em formação motora.
O Cérebro Esquerdo é dominante no controle da fala e da linguagem; o Direito sobressai em tarefas visuomotoras” (GAZZANIGA, 2005, p. 9).
Quando a criança não é estimulada neuromotormente, como por exemplo, ao se valer do andador, para sua locomoção, restringe a ação do cérebro, contribuindo apenas para uma ação mecânica, com o andador, e não neural, que, por conseguinte, provavelmente acarretará prejuízo motor para a criança em formação.
A direção da escola, e, também o professor dentro da sala de aula, talvez não percebam que o aluno é um indivíduo em constante formação, que os aspectos motores são relevantes para o seu desenvolvimento, haja vista, que a criança encontra prazer no que lhe faz bem, e as atividades desportivas, brincadeiras, são ligadas diretamente a psicomotricidade.
A falta de atualização e valorização do corpo docente pode atrapalhar o bom desenvolvimento do seu aluno, pois, um professor desmotivado, é uma ponte para um aluno também.
Em virtude disso podem estar prejudicando o desenvolvimento motor dos seus alunos
Professores em escolas desestruturadas, sem apoio material e pedagógico, desqualificados pela sociedade, pelas famílias, pelos alunos não podem ocupar bem o lugar de quem ensina tornando o conhecimento desejável pelo aluno. É preciso que o professor competente e valorizado encontre o prazer de ensinar. A má qualidade do ensino provoca um desestímulo na busca do conhecimento (SAMPAIO, 2009 apud Weiss, 2003, p. 18).
O psicopedagogo pode auxiliar a criança ao perceber que esta apresenta problemas de aprendizagem, que pode estar relacionado com a sua parte motora, que por sua vez, pode ter sido alterada por um “trauma na infância”, pois, o “dia a dia”, vai forjar o seu futuro, ou ainda, a falta de afetividade por parte da família, pode implicar desvios psicomotores.
“A família, por sua vez, também é responsável pela aprendizagem da criança, já que os pais são os primeiros ensinantes e as atitudes destes diante das emergências de autoria do aprendente, se repetidas constantemente, irão determinar a modalidade de aprendizagem dos filhos (PORTO apud FERNANDEZ, 2001)”.
A criança pode ter timidez, agressividade, apatia, euforia, tristeza, alegria dependendo da ação neuromotor que tiver sido estimulada durante a sua infância.
Portanto a psicopedagogia e psicomotricidade possuem valores correspondentes na formação do indivíduo.
O CORPO
O corpo é a condição vital para a sobrevivência, sem ele estaríamos sem defesa, ataque, objetivos, sonhos, ideais.
É através dele que nos desenvolvemos nos percebemos e somos condicionados a viver no mundo.
A mente somente pode funciona, se, existir uma projeção de um corpo no espaço, e sobre esse espaço, ocupar lugar para poder sobreviver.
O corpo precisa ser descoberto, arranjado e ocupado no mundo, caso contrário, é apenas um composto de ossos e músculos sem finalidade para o kosmos.
Um dos motivos da falha nos movimentos está diretamente relacionado com a posição do corpo no espaço, ou seja, se uma pessoa não tem exatidão das dimensões e força de suas mãos como, por exemplo, poderá esmagar um “passarinho” ao pegá-lo.
Ou quem sabe outro exemplo, ao passar, por exemplo, por entre duas pessoas esbarra em uma delas, isso, significa que este elemento não possui uma exatidão das suas formas, ou pelo menos noção do que ela ocupa no espaço.
A psicopedagogia orienta que a formação do corpo precisa ser detalhada, observada, por conseguinte, cada indivíduo precisa conhecer o seu corpo, e para conhecê-lo precisa gostar dele.
Um pai ou uma mãe precisa ensinar o seu filho o valor do seu corpo, o que representa, e as responsabilidades desse corpo no espaço.
A formação familiar pode muito inibir ao conhecimento do corpo, pois, muitos “tabus” podem girar em torno desse corpo, haja vista, que em algumas famílias, pode representar a “morada de satanás”, ou “algo desprezível”, “gordo”, “franzino”…
Com essas informações indesejáveis, o “proprietário do corpo”, acaba por vez inibindo a vontade de conhecê-lo, que adianta, possivelmente poderá torná-lo desconhecido para si.
A psicomotricidade busca muitas formas de conhecer e explorar a ação do corpo, pois, se desenvolve fisicamente através deste e a importância vital que possui para a sobrevivência.
A percepção sinestésica diz respeito ao exato conhecimento desse corpo no espaço e da sua vitalidade para o mesmo, como por exemplo: podemos citar o caso de um cego de nascença ter exatamente noção de cada parte do seu corpo e dos objetos que o cerca, facilita desta forma a conexão com os mesmos, como encher um copo de água sem derramá-lo, caminhar no espaço sem se desequilibrar, são exemplos de como é importante o conhecimento do corpo para a sobrevivência.
A questão do corpo é tão importante que pessoas deixam de realizar diversos tipos de atividades em detrimento do corpo, ou porque não conhece os limites dele, como são em muitos casos exercícios aeróbicos, uma vez que tais indivíduos desconhecem o seu próprio corpo, possivelmente ficará receoso de executar exercícios dessa natureza.
Portanto o corpo é, base biológica, mental, social, e social sobre a qual se fundamentam as estruturas do eu e da sociedade.
Se o corpo não estiver funcionando bem, nada de progresso frente irá muito bem também.
SISTEMA PERCEPTIVO
A percepção compreende o processamento das informações transmitidas pelo sistema nervoso-sensorial desde os órgãos do sentido até o cérebro onde se processa para formar a percepção do mundo.
A percepção é a interpretação do mundo através do cérebro. Na ausência da percepção não haveria memória e não haveria aprendizagem.
Ela é tão importante que liga o mundo exterior com o interior, ou seja, decodifica as informações recebidas pelo mundo e passa traduzir de uma forma organizada.
O psicopedagogo ao trabalhar com crianças que possuem dificuldades em aprender, muitas vezes se depara com problemas associados a percepção, que tem muitas vezes ligações a sua própria infância de como ela foi acompanhada e significada para si, ou problemas de ensinagem por parte dos docentes.
Uma infância mal vivida, por exemplo, provavelmente trará problemas na percepção infantil, pois o simples fato do amamentar, já é um modo que a criança percebe o mundo.
Dificuldade de aprendizagem é termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva , da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio lógico matemático.
Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo, podem ocorrer durante toda a vida.
As dificuldades de aprendizagem podem estar associadas a problemas de auto-regulação do comportamento, da percepção social e interação social, deficiência sensorial ou deficiência mental, embora não seja o resultado dessas condições.
A psicopedagogia precisa ter um olhar mais clínico quanto aos aspectos da percepção infantil, pois, as dificuldades em aprender podem partir principalmente desse prisma, e, às vezes fica se fazendo um rodeio quanto ao problema, mandado a criança se tratar com psicólogo, “tirar um eletro”, sendo que a solução pode estar bem próximo, como é o caso do estudo apurado dos problemas ligados a percepção.
O psicopedagogo precisa se relacionar com a criança, entendê-la, senti-la, compreendê-la, só então entenderá o que se passa com ela.
Se é preciso fazer falar a criança, é porque ela nos escapa e não nos revela o que ela é. Ora, numa pesquisa, não se pode partir do nada. Se a experiência é aqui o que a própria criança revela, então é uma experiência demasiadamente pobre para o psicólogo se contente com ela e possa simplesmente iniciar, com proveito, a sua pesquisa. Pois , “em psicologia como em física, não existem “fatos” puros, se entende por “fato” um fenômeno apresentado ao espírito pela própria natureza, independente das hipóteses que permitiram interrogá-la, dos princípios que regulam a interpretação da experiência e do contexto sistemático de proposições anteriores no qual o observador insere, por meio de espécie de preligação, toda a verificação nova” (PIAGET, ob. cit., pág XXXII).


REFERÊNCIAS
BOSSA, Nádia. A psicopedagogia no Brasil, Porto Alegre. Artes Médicas, 1994.
COSTA, Samuel. Psicologia e Cristianismo, Rio de Janeiro, SILVACOSTA, 2006.
FREIRE, Serrano, Sou Professor: trabalhando a auto-estima e a motivação no magistério. 4 ed. Rio de Janeiro: Wak, 2008.
LEIF, Joseph, Psicologia e Educação: tomo primeiro a criança. Rio de Janeiro, Livraria Freitas Bastos S.1965.
MOREIRA, Paulo Roberto, Psicologia da Educação. 2 ed. São Paulo: FTD, 1996.
FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à Prática Educativa.7 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
PORTO, Olívia. Psicopedagogia Institucional: teoria, prática e assessoramento psicopedagógico. Rio de Janeiro, WAK, 2006.
SAMPAIO, Simaia, Dificuldades de Aprendizagem: A psicopedagogia na relação sujeito, família e escola. 1 ed. Rio de Janeiro: Wak, 2009.
Autor: Hilton Andrade dos Santos
Pós graduando em Psicopedagogia pela UNIABEU. Bacharel em Teologia pela FAECAD. Tecnólogo em Ciências Militares e Graduado Especializado em Perícia Criminal Militar formado no 1º BPE. Instrutor do Curso de Perícia Criminal e Investigador. Professor de Teologia pelo IBADERJ.
Hilton Andrade dos Santos
Pós graduando em Psicopedagogia pela UNIABEU. Bacharel em Teologia pela FAECAD. Tecnólogo em Ciências Militares e Graduado Especializado em Perícia Criminal Militar formado no 1º BPE. Instrutor do Curso de Perícia Criminal e Investigador. Professor de Teologia pelo IBADERJ.
Hilton Andrade dos SantosPós graduando em Psicopedagogia pela UNIABEU. Bacharel em Teologia pela FAECAD. Tecnólogo em Ciências Militares e Graduado Especializado em Perícia Criminal Militar formado no 1º BPE. Instrutor do Curso de Perícia Criminal e Investigador. Professor de Teologia pelo IBADERJ.





Alguns Pensadores da educação-10

PEDAGOGIA

John Dewey

O filósofo norte-americano defendia a democracia e a liberdade de pensamento como instrumentos para a manutenção emocional e intelectual das crianças


01/07/2011 19:37
Texto Priscila Ramalho
Nova-Escola
Foto: Wikimedia
Foto: Dewey é o nome mais célebre da corrente filosófica que ficou conhecida como pragmatismo
Dewey é o nome mais célebre da corrente filosófica que ficou conhecida como pragmatismo

Frases de John Dewey:

"O professor que desperta entusiasmo em seus alunos conseguiu algo que nenhuma soma de métodos sistematizados, por mais corretos que sejam, pode obter"

"A meta da vida não é a perfeição, mas o eterno processo de aperfeiçoamento, amadurecimento, refinamento"


John Dewey nasceu em 1859 em Burlington, uma pequena cidade agrícola do estado norte-americano de Vermont. Na escola, teve uma educação desinteressante e desestimulante, o que foi compensado pela formação que recebeu em casa. Ainda criança, via sua mãe confiar aos filhos pequenas tarefas para despertar o senso de responsabilidade. Foi professor secundário por três anos antes de cursar a Universidade Johns Hopkins, em Baltimore. Estudou artes e filosofia e tornou-se professor da Universidade de Minnesota. Escreveu sobre filosofia e Educação, além de arte, religião, moral, teoria do conhecimento, psicologia e política. Seu interesse por pedagogia nasceu da observação de que a escola de seu tempo continuava, em grande parte, orientada por valores tradicionais, e não havia incorporado as descobertas da psicologia, nem acompanhara os avanços políticos e sociais. Fiel à causa democrática, ele participou de vários movimentos sociais. Criou uma universidade-exílio para acolher estudantes perseguidos em países de regime totalitário. Morreu em 1952, aos 93 anos.

Quantas vezes você já ouviu falar na necessidade de valorizar a capacidade de pensar dos alunos? De prepará-los para questionar a realidade? De unir teoria e prática? De problematizar? Se você se preocupa com essas questões, já esbarrou, mesmo sem saber, em algumas das concepções de John Dewey, filósofo norte-americano que influenciou educadores de várias partes do mundo. No Brasil inspirou o movimento da Escola Nova, liderado por Anísio Teixeira, ao colocar a atividade prática e a democracia como importantes ingredientes da educação.

Dewey é o nome mais célebre da corrente filosófica que ficou conhecida como pragmatismo, embora ele preferisse o nome instrumentalismo - uma vez que, para essa escola de pensamento, as idéias só têm importância desde que sirvam de instrumento para a resolução de problemas reais. No campo específico da pedagogia, a teoria de Dewey se inscreve na chamada educação progressiva. Um de seus principais objetivos é educar a criança como um todo. O que importa é o crescimento - físico, emocional e intelectual.

O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. Atividades manuais e criativas ganharam destaque no currículo e as crianças passaram a ser estimuladas a experimentar e pensar por si mesmas. Nesse contexto, a democracia ganha peso, por ser a ordem política que permite o maior desenvolvimento dos indivíduos, no papel de decidir em conjunto o destino do grupo a que pertencem. Dewey defendia a democracia não só no campo institucional mas também no interior das escolas.


Estímulo à cooperação

Influenciado pelo empirismo, Dewey criou uma escola-laboratório ligada à universidade onde lecionava para testar métodos pedagógicos. Ele insistia na necessidade de estreitar a relação entre teoria e prática, pois acreditava que as hipóteses teóricas só têm sentido no dia-a-dia. Outro ponto-chave de sua teoria é a crença de que o conhecimento é construído de consensos, que por sua vez resultam de discussões coletivas. "O aprendizado se dá quando compartilhamos experiências, e isso só é possível num ambiente democrático, onde não haja barreiras ao intercâmbio de pensamento", escreveu. Por isso, a escola deve proporcionar práticas conjuntas e promover situações de cooperação, em vez de lidar com as crianças de forma isolada.
Seu grande mérito foi ter sido um dos primeiros a chamar a atenção para a capacidade de pensar dos alunos. Dewey acreditava que, para o sucesso do processo educativo, bastava um grupo de pessoas se comunicando e trocando idéias, sentimentos e experiências sobre as situações práticas do dia-a-dia. Ao mesmo tempo, reconhecia que, à medida que as sociedades foram ficando complexas, a distância entre adultos e crianças se ampliou demais. Daí a necessidade da escola, um espaço onde as pessoas se encontram para educar e ser educadas. O papel dessa instituição, segundo ele, é reproduzir a comunidade em miniatura, apresentar o mundo de um modo simplificado e organizado e, aos poucos, conduzir as crianças ao sentido e à compreensão das coisas mais complexas. Em outras palavras, o objetivo da escola deveria ser ensinar a criança a viver no mundo.

"Afinal, as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em outro, vivendo", ensinou, argumentando que o aprendizado se dá justamente quando os alunos são colocados diante de problemas reais. A Educação, na visão deweyana, é "uma constante reconstrução da experiência, de forma a dar-lhe cada vez mais sentido e a habilitar as novas gerações a responder aos desafios da sociedade". Educar, portanto, é mais do que reproduzir conhecimentos. É incentivar o desejo de desenvolvimento contínuo, preparar pessoas para transformar algo.

A experiência educativa é, para Dewey, reflexiva, resultando em novos conhecimentos. Deve seguir alguns pontos essenciais: que o aluno esteja numa verdadeira situação de experimentação, que a atividade o interesse, que haja um problema a resolver, que ele possua os conhecimentos para agir diante da situação e que tenha a chance de testar suas idéias. Reflexão e ação devem estar ligadas, são parte de um todo indivisível. Dewey acreditava que só a inteligência dá ao homem a capacidade de modificar o ambiente a seu redor.


Liberdade intelectual para os alunos

A filosofia deweyana remete a uma prática docente baseada na liberdade do aluno para elaborar as próprias certezas, os próprios conhecimentos, as próprias regras morais. Isso não significa reduzir a importância do currículo ou dos saberes do educador. Para Dewey, o professor deve apresentar os conteúdos escolares na forma de questões ou problemas e jamais dar de antemão respostas ou soluções prontas. Em lugar de começar com definições ou conceitos já elaborados, deve usar procedimentos que façam o aluno raciocinar e elaborar os próprios conceitos para depois confrontar com o conhecimento sistematizado. Pode-se afirmar que as teorias mais modernas da didática, como o construtivismo e as bases teóricas dos Parâmetros Curriculares Nacionais, têm inspiração nas idéias do educador.

Para pensar

Uma das principais lições deixadas por John Dewey é a de que, não havendo separação entre vida e educação, esta deve preparar para a vida, promovendo seu constante desenvolvimento. Como ele dizia, "as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em outro, vivendo". Então, qual é a diferença entre preparar para a vida e para passar de ano? Como educar alunos que têm realidades tão diferentes entre si e que, provavelmente, terão também futuros tão distintos?

Alguns Pensadores da Educação-9

PEDAGOGIA

Paulo Freire

O mais célebre educador brasileiro, autor da pedagogia do oprimido, defendia como objetivo da escola ensinar o aluno a 'ler o mundo' para poder transformá-lo


01/07/2011 16:05
Texto Márcio Ferrari
Nova-Escola
Foto: Wikimedia
Foto: O escritor e educador em janeiro de 1992
O escritor e educador em janeiro de 1977

Frases de Paulo Freire:
"Não é possível pensar em linguagem sem ideologia e sem poder"
"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda"
1808 Pensadores da educação
Conheça séculos de reflexões sobre o ofício de educar

Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, numa família de classe média. Com o agravamento da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econômicas. Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério. Suas idéias pedagógicas se formaram da observação da cultura dos alunos - em particular o uso da linguagem - e do papel elitista da escola. Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70 dias na prisão antes de se exilar. Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo. Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.
Paulo Freire foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais. Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Para Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. O principal livro de Freire se intitula justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra.

Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas (isto é, as "escolas burguesas"), que ele qualificou de educação bancária. Nela, segundo Freire, o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras, o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos. "Sua tônica fundamentalmente reside em matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade", escreveu o educador. Ele dizia que, enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação que defendia tinha a intenção de inquietá-los.

Alguns Pensadores da Educação-8

PEDAGOGIA

Maria Montessori

Segundo a visão pedagógica da pesquisadora italiana, o potencial de aprender está em cada um de nós


Foto: Wikimedia Commons
Foto: Maria Montessori priorizava os anos iniciais de aprendizado
Maria Montessori priorizava os anos iniciais de aprendizado

"A tarefa do professor é preparar motivações para atividades culturais, num ambiente previamente organizado, e depois se abster de interferir"  Maria Montessori

1808 Pensadores da educação
Conheça séculos de reflexões sobre o ofício de educar

Maria Montessori nasceu em 1870, em Chiaravalle, no norte da Itália, filha única de um casal de classe média. Desde pequena se interessou pelas ciências e decidiu enfrentar a resistência do pai e de todos à sua volta para estudar medicina na Universidade de Roma. Direcionou a carreira para a psiquiatria e logo se interessou por crianças com retardo mental, o que mudaria sua vida e a história da educação. Ela percebeu que aqueles meninos e meninas proscritos da sociedade por serem considerados ineducáveis respondiam com rapidez e entusiasmo aos estímulos para realizar trabalhos domésticos, exercitando as habilidades motoras e experimentando autonomia. Em pouco tempo, a atividade combinada de observação prática e pesquisa acadêmica levou a médica a experiências com as crianças ditas normais. Montessori graduou-se em pedagogia, antropologia e psicologia e pôs suas idéias em prática na primeira Casa dei Bambini (Casa das crianças), aberta numa região pobre no centro de Roma. Depois dessa, foram fundadas outras em diversos lugares da Itália. O sucesso das "casas" tornou Montessori uma celebridade nacional. Em 1922 o governo a nomeou inspetora-geral das escolas da Itália. Com a ascensão do regime fascista, porém, ela decidiu deixar o país em 1934. Continuou trabalhando na Espanha, no Ceilão (hoje Sri Lanka), na Índia e na Holanda, onde morreu aos 81 anos, em 1952.

Alguns Pensadores da educação-7

PEDAGOGIA

Lev Vygotsky

A obra do psicólogo ressalta o papel da escola no desenvolvimento mental das crianças e é uma das mais estudadas pela pedagogia contemporânea


01/07/2011 19:08
Texto Márcio Ferrari
Nova-Escola
Foto: marxists.org
Foto: Lev Vygotsky morreu há mais de 70 anos, mas sua obra continua em pleno processo de descoberta
Lev Vygotsky morreu há mais de 70 anos, mas sua obra continua em pleno processo de descoberta




Frases de Lev Vygotsky:

"O saber que não vem da experiência não é realmente saber"

"O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa"
1808 Pensadores da educação
Conheça séculos de reflexões sobre o ofício de educar

Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 1896 em Orsha, pequena cidade perto de Minsk, a capital da Bielo-Rússia, região então dominada pela Rússia (e que só se tornou independente em 1991, com a desintegração da União Soviética, adotando o nome de Belarus). Seus pais eram de uma família judaica culta e com boas condições econômicas, o que permitiu a Vygotsky uma formação sólida desde criança. Ele teve um tutor particular até entrar no curso secundário e se dedicou desde cedo a muitas leituras. Aos 18 anos, matriculou-se no curso de medicina em Moscou, mas acabou cursando a faculdade de direito. Formado, voltou a Gomel, na Bielo-Rússia, em 1917, ano da revolução bolchevique, que ele apoiou. Lecionou literatura, estética e história da arte e fundou um laboratório de psicologia - área em que rapidamente ganhou destaque, graças a sua cultura enciclopédica, seu pensamento inovador e sua intensa atividade, tendo produzido mais de 200 trabalhos científicos. Em 1925, já sofrendo da tuberculose que o mataria em 1934, publicou A Psicologia da Arte, um estudo sobre Hamlet, de William Shakespeare, cuja origem é sua tese de mestrado.

O psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky morreu há 74 anos, mas sua obra ainda está em pleno processo de descoberta e debate em vários pontos do mundo, incluindo o Brasil. "Ele foi um pensador complexo e tocou em muitos pontos nevrálgicos da pedagogia contemporânea", diz Teresa Rego, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Ela ressalta, como exemplo, os pontos de contato entre os estudos de Vygotsky sobre a linguagem escrita e o trabalho da argentina Emilia Ferreiro, a mais influente dos educadores vivos.

A parte mais conhecida da extensa obra produzida por Vygotsky em seu curto tempo de vida converge para o tema da criação da cultura. Aos educadores interessa em particular os estudos sobre desenvolvimento intelectual. Vygotsky atribuía um papel preponderante às relações sociais nesse processo, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo.

Alguns Pensadores da educação-6

PEDAGOGIA

Jean Piaget

O cientista suíço revolucionou o modo de encarar a educação de crianças ao mostrar que elas não pensam como os adultos


01/07/2011 16:50
Texto Márcio Ferrari
Nova-Escola
Foto: Wikimedia
Foto: Piaget acreditou e comprovou que o conhecimento vem das descobertas que a criança faz
Piaget acreditou e comprovou que o conhecimento vem das descobertas que a criança faz



Frases de Jean Piaget:

“O conhecimento não pode ser uma cópia, visto que é sempre uma relação entre objeto e sujeito”

“Se o indivíduo é passivo intelectualmente, não conseguirá ser livre moralmente”


Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 1896. Aos 10 anos publicou seu primeiro artigo científico, sobre um pardal albino. Desde cedo interessado em filosofia, religião e ciência, formou-se em biologia na Universidade de Neuchâtel e, aos 23 anos, mudou-se para Zurique, onde começou a trabalhar com o estudo do raciocínio da criança sob a ótica da psicologia experimental. Em 1924, publicou o primeiro de mais de 50 livros, A Linguagem e o Pensamento na Criança. Antes do fim da década de 1930, já havia ocupado cargos importantes nas principais universidades suíças, além da diretoria do Instituto Jean-Jacques Rousseau, ao lado de seu mestre, Édouard Claparède (1873-1940). Foi também nesse período que acompanhou a infância dos três filhos, uma das grandes fontes do trabalho de observação do que chamou de "ajustamento progressivo do saber". Até o fim da vida, recebeu títulos honorários de algumas das principais universidades européias e norte-americanas. Morreu em 1980 em Genebra, na Suíça.

Jean Piaget foi o nome mais influente no campo da educação durante a segunda metade do século 20, a ponto de quase se tornar sinônimo de pedagogia. Não existe, entretanto, um método Piaget, como ele próprio gostava de frisar. Ele nunca atuou como pedagogo. Antes de mais nada, Piaget foi biólogo e dedicou a vida a submeter à observação científica rigorosa o processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança. Do estudo das concepções infantis de tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade, Piaget criou um campo de investigação que denominou epistemologia genética – isto é, uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança. Segundo ele, o pensamento infantil passa por quatro estágios,
desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida.
“A grande contribuição de Piaget foi estudar o raciocínio lógico-matemático, que é fundamental na escola mas não pode ser ensinado, dependendo de uma estrutura de conhecimento da criança”, diz Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

As descobertas de Piaget tiveram grande impacto na pedagogia, mas, de certa forma, demonstraram que a transmissão de conhecimentos é uma possibilidade limitada. Por um lado, não se pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de absorver. Por outro, mesmo tendo essas condições, não vai se interessar a não ser por conteúdos que lhe façam falta em termos cognitivos.

Isso porque, para o cientista suíço, o conhecimento se dá por descobertas que a própria criança faz – um mecanismo que outros pensadores antes dele já haviam intuído, mas que ele submeteu à comprovação na prática. Vem de Piaget a idéia de que o aprendizado
é construído pelo aluno e é sua teoria que inaugura a corrente construtivista. Educar, para Piaget, é “provocar a atividade” – isto é, estimular a procura do conhecimento. “O professor não deve pensar no que a criança é, mas no que ela pode se tornar”, diz Lino de Macedo. 

Assimilação e acomodação

Com Piaget, ficou claro que as crianças não raciocinam como os adultos e apenas gradualmente se inserem nas regras, valores e símbolos da maturidade psicológica. Essa inserção se dá mediante dois mecanismos: assimilação e acomodação.

O primeiro consiste em incorporar objetos do mundo exterior a esquemas mentais reexistentes. Por exemplo: a criança que tem a idéia mental de uma ave como animal voador, com penas e asas, ao observar um avestruz vai tentar assimilá-lo a um esquema que não corresponde totalmente ao conhecido. Já a acomodação se refere a modificações dos sistemas de assimilação por influência do mundo externo. Assim, depois de aprender que um avestruz não voa, a criança vai adaptar seu conceito “geral” de ave para incluir as que não voam.


Ajudando o desenvolvimento do aluno

A obra de Piaget leva à conclusão de que o trabalho de educar crianças não se refere tanto à transmissão de conteúdos quanto a favorecer a atividade mental do aluno. Conhecer sua obra, portanto, pode ajudar o professor a tornar seu trabalho mais eficiente. Algumas escolas planejam as suas atividades de acordo com os estágios do desenvolvimento cognitivo. Nas classes de Educação Infantil com crianças entre 2 e 3 anos, por exemplo, não é difícil perceber que elas estão em plena descoberta da representação. Começam a brincar de ser outra pessoa, com imitação das atividades vistas em casa e dos personagens das histórias. A escola fará bem em dar vazão a isso promovendo uma ampliação do repertório de referências. Mas é importante lembrar que os modelos teóricos são sempre parciais e que, no caso de Piaget em particular, não existem receitas para a sala de aula.

Para pensar

Os críticos de Piaget costumam dizer que ele deu importância excessiva aos processos individuais e internos de aquisição do aprendizado. Os que afirmam isso em geral contrapõem a obra piagetiana à do pensador bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934). Para ele, como para Piaget, o aprendizado se dá por interação entre estruturas internas e contextos externos. A diferença é que, segundo
Vygotsky, esse aprendizado depende fundamentalmente da influência
ativa do meio social, que Piaget tendia a considerar apenas uma
“interferência” na construção do conhecimento. “É preciso lembrar
que Piaget queria abordar o conhecimento do ponto de vista
de qualquer criança”, diz Lino de Macedo em defesa do cientista
suíço. Pela sua experiência em sala de aula, que peso o meio social
tem nos processos propriamente cognitivos das crianças? Como você pode influir nisso?


Alguns Pensadores da educação-5

PEDAGOGIA

Henri Wallon

Militante apaixonado, o médico, psicólogo e filósofo francês mostrou que as crianças têm também corpo e emoções (e não apenas cabeça) na sala de aula


Foto: Wikimedia
Foto: Wallon levou não só o corpo da criança mas também suas emoções para dentro da sala de aula
Wallon levou não só o corpo da criança mas também suas emoções para dentro da sala de aula


Frases de Henri Wallon:

"A criança responde às impressões que as coisas lhe causam com gestos dirigidos a elas"

"O indivíduo é social não como resultado de circunstâncias externas, mas em virtude de uma necessidade interna"


Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu em Paris, França, em 1879. Graduou-se em medicina e psicologia. Fez também filosofia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em 1925, criou um laboratório de psicologia biológica da criança. Quatro anos mais tarde, tornou-se professor da Universidade Sorbonne e vice-presidente do Grupo Francês de Educação Nova - instituição que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e da qual foi presidente de 1946 até morrer, também em Paris, em 1962. Ao longo de toda a vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas crianças.
Militante de esquerda, participou das forças de resistência contra
Adolf Hitler e foi perseguido pela Gestapo (a polícia política nazista) durante a Segunda Guerra (1939-1945). Em 1947, propôs mudanças estruturais no sistema educacional francês. Coordenou o projeto Reforma do Ensino, conhecido como Langevin-Wallon - conjunto de propostas equivalente à nossa Lei de Diretrizes e Bases. Nele, por exemplo, está escrito que nenhum aluno deve ser reprovado numa avaliação escolar. Em 1948, lançou a revista Enfance, que serviria de plataforma de novas idéias no mundo da educação - e que rapidamente se transformou numa espécie de bíblia para pesquisadores e professores.

Falar que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual, afetiva e social) às crianças é comum hoje em dia. No início do século passado, porém, essa idéia foi uma verdadeira revolução no ensino. Uma revolução comandada por um médico, psicólogo e filósofo francês chamado Henri Wallon. Sua teoria pedagógica, que diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalou as convicções numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de construção do conhecimento.

Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas idéias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Militante apaixonado (tanto na política como na educação), dizia que reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. Ou seja, "a própria negação do ensino".

As emoções, para Wallon, têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino.

Alguns Pensadores da Educação-4

PEDAGOGIA

Célestin Freinet

O educador francês desenvolveu atividades hoje comuns, como as aulas-passeio e jornal de classe, e criou um projeto de escola moderna e democrática


01/07/2011 20:52
Texto Márcio Ferrari
Nova-Escola
Foto: Freinet se identificava com a corrente da Escola Nova, anti-conservadora
Freinet se identificava com a corrente da Escola Nova, anti-conservadora


Frases de Célestin Freinet:

"A democracia de amanhã se prepara na democracia da escola"

"Se não encontrarmos respostas adequadas a todas as questões sobre educação, continuaremos a forjar almas de escravos em nossos filhos"


Célestin Freinet nasceu em 1896 em Gars, povoado na região da Provence, sul da França. Foi pastor de rebanhos antes de começar a cursar o magistério. Lutou na Primeira Guerra Mundial em 1914, quando os gases tóxicos do campo de batalha afetaram seus pulmões para o resto da vida. Em 1920, começou a lecionar na aldeia de Bar-sur-Loup, onde pôs em prática alguns de seus principais experimentos, como a aula-passeio e o livro da vida. Em 1925, filiou-se ao Partido Comunista Francês. Dois anos depois, fundou a Cooperativa do Ensino Leigo, para desenvolvimento e intercâmbio de novos instrumentos pedagógicos. Em 1928, já casado com Élise Freinet (que se tornaria sua parceira e divulgadora), mudou-se para Saint-Paul de Vence, iniciando intensa atividade. Cinco anos depois, foi exonerado do cargo de professor. Em 1935, o casal Freinet construiu uma escola própria em Vence. Durante a Segunda Guerra, o educador foi preso e adoeceu num campo de concentração alemão. Libertado depois de um ano, aderiu à resistência francesa ao nazismo. Recobrada a paz, Freinet reorganizou a escola e a cooperativa em Vence. Em 1956, liderou a vitoriosa campanha 25 Alunos por Classe.
No ano seguinte, os seguidores de Freinet fundaram a Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que hoje reúne educadores de cerca de 40 países. Freinet morreu em 1966.

Muitos dos conceitos e atividades escolares idealizados pelo pedagogo francês Célestin Freinet se tornaram tão difundidos que há educadores que os utilizam sem nunca ter ouvido falar no autor. É o caso das aulas-passeio (ou estudos de campo), dos cantinhos pedagógicos e da troca de correspondência entre escolas. Não é necessário conhecer a fundo a obra de Freinet para fazer bom uso desses recursos, mas entender a teoria que motivou sua criação deverá possibilitar sua aplicação integrada e torná-los mais férteis.

Freinet se inscreve, historicamente, entre os educadores identificados com a corrente da Escola Nova, que, nas primeiras décadas do século 20, se insurgiu contra o ensino tradicionalista, centrado no professor e na cultura enciclopédica, propondo em seu lugar uma educação ativa em torno do aluno. O pedagogo francês somou ao ideário dos escolanovistas uma visão marxista e popular tanto da organização da rede de ensino como do aprendizado em si. "Freinet sempre acreditou que é preciso transformar a escola por dentro, pois é exatamente ali que se manifestam as contradições sociais", diz Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora do pólo São Paulo da Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que congrega seguidores de Freinet.

Na teoria do educador francês, o trabalho e a cooperação vêm em primeiro plano, a ponto de ele defender, em contraste com outros pedagogos, incluindo os da Escola Nova, que "não é o jogo que é natural da criança, mas sim o trabalho". Seu objetivo declarado é criar uma "escola do povo".


Importância do êxito

Não foi por acaso que Freinet criou uma pedagogia do trabalho. Para ele, a atividade é o que orienta a prática escolar e o objetivo final da educação é formar cidadãos para o trabalho livre e criativo, capaz de dominar e transformar o meio e emancipar quem o exerce. Um dos deveres do professor, segundo Freinet, é criar uma atmosfera laboriosa na escola, de modo a estimular as crianças a fazer experiências, procurar respostas para suas necessidades e inquietações, ajudando e sendo ajudadas por seus colegas e buscando no professor alguém que organize o trabalho.

Outra função primordial do professor, segundo Freinet, é colaborar ao máximo para o êxito de todos os alunos. Diferentemente da maioria dos pedagogos modernos, o educador francês não via valor didático no erro. Ele acreditava que o fracasso desequilibra e desmotiva o aluno, por isso o professor deve ajudá-lo a superar o erro. "Freinet descobriu que a forma mais profunda de aprendizado é o envolvimento afetivo", diz Rosa Sampaio.

Ao lado da pedagogia do trabalho e da pedagogia do êxito, Freinet propôs, finalmente, uma pedagogia do bom senso, pela qual a aprendizagem resulta de uma relação dialética entre ação e pensamento, ou teoria e prática. O professor se pauta por uma atitude orientada tanto pela psicologia quanto pela pedagogia - assim, o histórico pessoal do aluno interage com os conhecimentos novos e essa relação constrói seu futuro na sociedade.

Livre expressão

Esse aspecto muito particular que atribuía ao aprendizado de cada criança é a razão de Freinet não ter criado um método pedagógico rígido, nem uma teoria propriamente científica. Mesmo assim, seu entendimento sobre os mecanismos do aprendizado mereceu elogios do biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), cuja teoria do conhecimento se baseou em minuciosa observação científica.

Freinet dedicou a vida a elaborar técnicas de ensino que funcionam como canais da livre expressão e da atividade cooperativa, com o objetivo de criar uma nova educação. Lançou-se a essa tarefa por considerar a escola de seu tempo uma instituição alienada da vida e da família, feita de dogmas e de acumulação estéril de informação - e, além disso, em geral a serviço apenas das elites. "Freinet colocou professor e alunos no mesmo nível de igualdade e camaradagem", diz Rosa Sampaio. O educador não se opunha, porém, às aulas teóricas. A primeira das novas técnicas didáticas desenvolvidas por Freinet foi a aula-passeio, que nasceu justamente da observação de que as crianças para quem lecionava, que se comportavam tão vividamente quando ao ar livre, pareciam desinteressadas dentro da escola. Uma segunda criação célebre, a imprensa na escola, respondeu à necessidade de eliminar a distância entre alunos e professores e de trazer para a classe a vida "lá fora". "É necessário fazer nossos filhos viver em república desde a escola", escreveu Freinet.

A pedagogia de Freinet se fundamenta em quatro eixos: a cooperação (para construir o conhecimento comunitariamente), a comunicação (para formalizá-lo, transmiti-lo e divulgá-lo), a documentação, com o chamado livro da vida (para registro diário dos fatos históricos), e a afetividade (como vínculo entre as pessoas e delas com o conhecimento).


Cooperação sim, manuais não

Com a intenção de propor uma reforma geral no ensino francês, Freinet reuniu suas experiências didáticas num sistema que denominou Escola Moderna. Entre as principais "técnicas Freinet" estão a correspondência entre escolas (para que os alunos possam não apenas escrever, mas ser lidos), os jornais de classe (mural, falado e impresso), o texto livre (nascido do estímulo para que os alunos registrem por escrito suas idéias, vivências e histórias), a cooperativa escolar, o contato freqüente com os pais (Freinet defendia que a escola deveria ser extensão da família) e os planos de trabalho. O pedagogo era contrário ao uso de manuais em sala de aula, sobretudo as cartilhas, por considerá-los genéricos e alheios às necessidades de expressão das crianças. Defendia que os alunos fossem em busca do conhecimento de que necessitassem em bibliotecas (que deveriam existir na própria escola) e que confeccionassem fichários de consulta e de autocorreção (para exercícios de Matemática, por exemplo). Para Freinet, todo conhecimento é fruto do que chamou de tateamento experimental - a atividade de formular hipóteses e testar sua validade - e cabe à escola proporcionar essa possibilidade a toda criança.

Para pensar

A utilização de técnicas desenvolvidas por Freinet, em particular as aulas-passeio e os cantinhos temáticos na sala de aula, não significam por si só que o professor adotou uma prática freinetiana. É preciso lembrar que o educador francês criou tais recursos para atingir um objetivo maior, que é o despertar, nas crianças, de uma consciência de seu meio, incluindo os aspectos sociais, e de sua história. Quando você promove atividades em sua escola, costuma ter consciência de como elas se inserem num plano pedagógico mais amplo?
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Alguns Pensadores da educação-3

PEDAGOGIA

B. F. Skinner

Para o psicólogo behaviorista norte-americano, a educação deve ser planejada passo a passo para se obter os resultados desejados


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Foto: No behaviorismo, o comportamento é apenas um conjunto de reações aos estímulos externos
No behaviorismo, o comportamento é apenas um conjunto de reações aos estímulos externos

Frases de Skinner:

“A educação é o estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o indivíduo e para outros em algum tempo futuro”

“Quando houver domínio sobre a ciência do comportamento, ela será a única alternativa para a sociedade planejada”


Burrhus Frederic Skinner nasceu em Susquehanna, no estado norteamericano da Pensilvânia, em 1904. Criado num ambiente de disciplina severa, foi um estudante rebelde, cujos interesses, na adolescência, eram a poesia e a filosofia. Formou-se em língua inglesa na Universidade de Nova York antes de redirecionar a carreira para a psicologia, que cursou em Harvard – onde tomou contato com o behaviorismo. Seguiram-se anos dedicados a experiências com ratos e pombos, paralelamente à produção de livros. O método desenvolvido para observar os animais de laboratório e suas reações aos estímulos levou-o a criar pequenos ambientes fechados que ficaram conhecidos como caixas de Skinner, depois adotadas para experimentos pela indústria farmacêutica. Quando sua filha nasceu, Skinner criou um berço climatizado, o que originou um boato de que a teria submetido a experiências semelhantes às que fazia em laboratório. Em 1948, aceitou o convite para ser professor em Harvard, onde ficou até o fim da vida. Morreu em 1990, em ativa militância a favor do behaviorismo.

Nenhum pensador ou cientista do século 20 levou tão longe a crença na possibilidade de controlar e moldar o comportamento humano como o norte-americano Burrhus Frederic Skinner. Sua obra é a expressão mais célebre do behaviorismo, corrente que dominou o pensamento e a prática da psicologia, em escolas e consultórios, até os anos 1950.

O behaviorismo restringe seu estudo ao comportamento (behavior, em inglês), tomado como um conjunto de reações dos organismos aos estímulos externos. Seu princípio é que só é possível teorizar e agir sobre o que é cientificamente observável. Com isso, ficam descartados conceitos e categorias centrais para outras correntes teóricas, como consciência, vontade, inteligência, emoção e memória – os estados mentais ou subjetivos.

Os adeptos do behaviorismo costumam se interessar pelo processo de aprendizado como um agente de mudança do comportamento. “Skinner revela em várias passagens a confiança no planejamento da educação, com base em uma ciência do comportamento humano, como possibilidade de evolução da cultura”, diz Maria de Lourdes Bara Zanotto, professora de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.


Sem livre-arbítrio

O conceito-chave do pensamento de Skinner é o de condicionamento operante, que ele acrescentou à noção de reflexo condicionado, formulada pelo cientista russo Ivan Pavlov. Os dois conceitos estão essencialmente ligados à fisiologia do organismo, seja animal ou humano. O reflexo condicionado é uma reação a um estímulo casual. O condicionamento operante é um mecanismo que premia uma determinada resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a necessidade à ação. É o caso do rato faminto que, numa experiência, percebe que o acionar de uma alavanca levará ao recebimento de comida. Ele tenderá a repetir o movimento cada vez que quiser saciar sua fome.

A diferença entre o reflexo condicionado e o condicionamento operante é que o primeiro é uma resposta a um estímulo puramente externo; e o segundo, o hábito gerado por uma ação do indivíduo. No comportamento respondente (de Pavlov), a um estímulo segue-se uma resposta. No comportamento operante (de Skinner), o ambiente é modificado e produz conseqüências que agem de novo sobre ele, alterando a probabilidade de ocorrência futura semelhante. 


Segundo Skinner, a ciência psicológica – e também o senso comum – costumava, antes do aparecimento do behaviorismo, apelar para explicações baseadas nos estados subjetivos por causa da dificuldade de verificar as relações de condicionamento operante – ou seja, todas as circunstâncias que produzem e mantêm a maioria dos comportamentos dos seres humanos. Isso porque elas formam cadeias muito complexas, que desafiam as tentativas de análise se elas não forem baseadas em métodos rigorosos de isolamento de variáveis.

Nos usos que projetou para suas conclusões científicas – em especial na educação –, Skinner pregou a eficiência do reforço positivo, sendo, em princípio, contrário a punições e esquemas repressivos. Ele escreveu um romance, Walden II, que projeta uma sociedade considerada por ele ideal, em que um amplo planejamento global, incumbido de aplicar os princípios do reforço e do condicionamento, garantiria uma ordem harmônica, pacífica e igualitária. Num de seus livros mais conhecidos, Além da Liberdade e da Dignidade, ele rejeitou noções como a do livre-arbítrio e defendeu que todo comportamento é determinado pelo ambiente, embora a relação do indivíduo com o meio seja de interação, e não passiva. Para Skinner, a cultura humana deveria rever conceitos como os que ele enuncia no título da obra.


Comportamento condicionado em laboratório

Precursores da psicologia, como o filósofo norte-americano William
James (1842-1910), já haviam previsto a utilidade de um ramo da ciência que estudasse os comportamentos puramente externos, mas a psicologia comportamental (behaviorismo) como a conhecemos começou mesmo com o médico russo Ivan Pavlov (1849-1936). Motivado por experiências com cães, Pavlov criou a teoria dos reflexos condicionados. Foi o primeiro cientista a trabalhar na área psicológica que não se utilizou de referências a estados subjetivos como instrumento teórico. O fundador do behaviorismo como escola, porém, foi o psicólogo norteamericano John B. Watson (1878- 1958), que formulou as estritas exigências metodológicas que deveriam nortear seus seguidores. O compromisso de verificação concreta de hipóteses e a recusa da introspecção aproximam o ideário de Watson do positivismo nas ciências humanas. Watson foi o principal inspirador de Skinner, por sua vez o maior divulgador do behaviorismo, prevendo a utilização de seus princípios na psicoterapia, na educação e até na formulação de políticas públicas. O behaviorismo clássico abraçou a idéia de que todo comportamento humano é infalivelmente controlável por meio do padrão de estímulo-resposta. Mais recentemente, o princípio da infalibilidade estatística foi substituído pelo da probabilidade. No imaginário ficcional do século 20, a ênfase nos conceitos de controle e planejamento aproximou o behaviorismo e as táticas dos regimes totalitários – a terapia behaviorista, por exemplo, usou comumente choques elétricos e substâncias químicas para condicionar comportamentos. Algumas das principais metáforas do terror de estado do período fizeram referências a métodos behavioristas, como os romances 1984 (de George Orwell) e A Laranja Mecânica (de Anthony Burgess, adaptado para o cinema por Stanley Kubrick).


Para pensar

Ainda que Skinner considerasse importante levar em conta as diferenças entre os alunos de um mesmo professor, o behaviorismo se baseia fundamentalmente na previsibilidade das reações aos estímulos e reforços. Seus objetivos educacionais buscam resultados definidos antecipadamente, para que seja possível, diante de uma criança ou adolescente, projetar a modelagem de um adulto. Você considera importante, como professor, saber de antemão exatamente o que deseja de seus alunos? É possível planejar o aprendizado em detalhes?


Livro de B. F. Skinner:
• Tecnologia do Ensino, Editora Pedagógica e Universitária Ltda.