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CREDENCIAIS DA AUTORA
Nádia A.
Bossa é Psicopedagoga, Mestre em Psicologia da Educação pelas
Pontifícias Universidades Católica de São Paulo, PUC-SP, Doutora em
Psicologia e Educação pela USP. No final da década de 80, e início dos
anos 90, a referida autora passa de aluna a professora e depois de
concluído o mestrado com uma dissertação que oficializava a existência
da Psicopedagogia na PUC-SP, se tornou uma das grandes percussora da
busca constante pela regulamentação da profissão do psicopedagogo no
Brasil.
Obras da autora: Dificuldades de aprendizagem: O que são? Como trata-los? Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico.
- RESUMO DA OBRA
A resenha que será aqui descrita refere-se a uma análise crítica do primeiro e do terceiro capítulo da obra da autora.
No primeiro capítulo, Bossa apresenta o conceito do termo
psicopedagogia. Seu conceito assinala de forma simples e direta uma das
mais profundas e importantes razões da produção do conhecimento
científico: o de ser meio, o de ser instrumento para o outro, tanto na
perspectiva teórico, quanto na aplicada à prática do cotidiano.
A
afirmação de que a psicopedagogia, historicamente, surgiu na fronteira
entre a psicologia e a pedagogia merece maior atenção. Para se chegar a
uma melhor conclusão desta proximidade, convém percorrer um caminho em
que é preciso pensar sobre o seu objeto de estudo, sobre as teorias que,
na interdisciplinaridade, embasam essa prática e sobre o seu campo de
atuação.
As considerações com relação ao objeto de estudo da
psicopedagogia sugerem que há certo consenso quanto ao fato de que ela
deve ocupar-se em estudar a aprendizagem humana, porém é uma ilusão
pensar que tal consenso nos conduza, a todos, a um único caminho.
É função da pedagogia pensar: O que é educar, o que é ensinar e
aprender; como se desenvolvem estas atividades; como incidem
subjetivamente os sistemas e métodos educativos; quais as problemáticas
estruturais que intervém no surgimento de transtornos da aprendizagem e
no fracasso escolar; que propostas de mudança surgem. O Sujeito que
aprende é motivo de perguntas para o psicopedagogo, e destinatário de
sua atividade profissional.
A definição do objeto de estudo da
psicopedagogia passou por fases distintas. O objeto de estudo foi
entendido várias formas; primeiro, era o sujeito que não podia aprender;
segundo o fato do sujeito não-aprender é concebido e carregado de
significados que explicam o seu não-aprender. A partir dessa perspectiva
a evolução desta área de estudo passou a entender que o objeto de
estudo é sempre o sujeito em processo de aprendizagem.
O
trabalho do psicopedagogo pode ser preventivo e clínico. Podemos então
falar em diferentes níveis de prevenção. No primeiro, o psicopedagogo
atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a freqüência
dos problemas de aprendizagem, tendo como trabalho as questões
didático-metodológicas, bem como na formação e orientação dos
profissionais da educação, além do aconselhamento dos pais. Num segundo
momento, o grande objetivo é tratar os problemas de aprendizagem já
instalados, criando um diagnóstico da realidade institucional e
elaborando planos de intervenção baseados na realidade diagnosticada. E
no terceiro momento, o grande objetivo é eliminar os transtornos
instalados, a partir de um procedimento clínico com todas as suas
implicações. No exercício do trabalho clinico, o psicopedagogo deve
reconhecer a sua própria subjetividade na relação, pois se trata de um
sujeito que estuda outros sujeitos.
Todo estudo sobre as
aprendizagens humanas requer a necessidade de se construir teorias que
fundamentam o aspecto psicopedagógico, embasando a prática tanto no que
se refere ao preventivo, quanto ao clínico.
Os profissionais
em psicopedagogia como quaisquer outros profissionais, sustentam sua
prática em pressupostos teóricos muitas vezes distintos. A epistemologia
genética e a psicanálise são necessárias para a teoria psicopedagógica,
mas não se confundem com ela, cujo fim é dar conta da articulação
inteligência-desejo. Considera-se que a psicopedagogia foi se
materializando como um conhecimento independente e complementar, por
assimilação recíproca das contribuições das escolas psicanalítica,
piagetiana e da psicologia social de Enrique Pichon-Rivière.
Podemos caracterizar a psicopedagogia como uma área de confluência do
psicológico, ou seja, a subjetividade do ser humano enquanto tal e do
educacional, atividade especificamente humana, social e cultural.
O campo de atuação do psicopedagogo refere-se não só ao espaço físico
onde se dá esse trabalho, mas também e em especial ao espaço
epistemológico que lhe cabe, ou seja, ao lugar deste campo de atividade e
ao modo de abordar o seu objeto de estudo. O trabalho psicopedagógico
pode, certamente, ter um caráter assistencial. Isso acontece quando, por
exemplo, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela
elaboração, direção e evolução de planos, programas e projetos no setor
de saúde e educação, integrando diferentes campos de conhecimento. A
psicopedagogia ocupa-se, assim, de todo o contexto da aprendizagem, seja
na área clínica, preventiva, assistencial, envolvendo elaboração
teórica no sentido de relacionar os fatores envolvidos nesse ponto de
convergência em que opera. Historicamente a psicopedagogia nasceu para
atender a patologia da aprendizagem.
No terceiro capítulo, Bossa
sistematiza a formação do Psicopedagogo no Brasil, numa visão
epistemológica como mudança de paradigma a partir do atual contexto
educacional.
A questão da formação do psicopedagogo assume nessa
perspectiva um papel de grande relevância na medida em que é a partir
desta formação que se processa o início da construção da identidade
desse profissional.
A psicopedagogia no Brasil ainda não se
concretizou como profissão do ponto de vista legal. Assim sendo, a
regulamentação da profissão de psicopedagogo viria a efetivar a
existência legal desse novo profissional. Um desafio está posto.
Uma outra discussão que se denota desafio à profissionalização do
psicopedagogo é a sua prática psicopedagógica. A resposta para atender a
este desafio é a própria prática psicopedagógica, exercida por um
profissional especializado, o psicopedagogo, cuja atuação visa não
apenas a sanar problemas de aprendizagem e deficiências no aparelho
escolar, mas, principalmente, considerar as características
muldisciplinares do sujeito que aprende, buscando melhorar seu
desempenho e aumentar suas potencialidades de aprendizagem.
Para tanto, duas formas de atuação são propostas dentro da formação do
psicopedagogo. A atuação da psicopedagogia clínica, visando o
atendimento clínico a partir de uma investigação para compreender o
significado, a causa e a modalidade de aprendizagem do sujeito, com o
intuito de sanar suas dificuldades. Já a atuação psicopedagógica
institucional, assume o compromisso com a melhoria da qualidade do
ensino expandindo sua atuação para o espaço escolar, atendendo,
sobretudo, aos problemas cruciais da educação no Brasil.
No
ambiente escolar, o psicopedagogo se utiliza de instrumentos
especializados, sistemas específicos de avaliação e estratégias capazes
de atender aos alunos em suas individualidades e de auxiliá-los nas
atividades diárias na escola. Também, este profissional, assessora a
escola, alertando-a para o papel que lhe é conferida, além de
reestruturar a atuação da própria instituição junto aos alunos e
professores, seja redimensionando o processo de aquisição e incorporação
do conhecimento dentro do espaço escolar, quanto ao encaminhamento de
alunos para outros profissionais.
A psicopedagogia abrange um
outro campo do conhecimento que é a produção científica, que a partir da
estrutura de seus estudos sistematiza um enorme leque de questões, que
abre um vasto campo de investigação de fenômenos envolvidos no processo
de aprendizagem humana.
Portanto, a formação do psicopedagogo,
se fundamenta a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
– 9.394/96 que assegura que a educação, dever da família e do Estado,
inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Assim, a formação dos profissionais da educação
ocorre em cursos de Pedagogia que, mesmo reformulados com diferentes
habilitações, não têm atendido à demanda da escola. Todavia, permanece
na escola um imenso vazio, pois a pedagogia, numa visão da compreensão
do processo de ensino-aprendizagem, não tem contemplado as diferentes
situações advindas da própria escola, como por exemplo, o desempenho do
professor, os conteúdos de ensino e o processo afetivo, cognitivo,
apenas justapondo informações sem conseguir articulá-las.
Nessa
perspectiva, a psicologia oferece à pedagogia um conhecimento sabre a
aprendizagem que considera o ser humano de um modo genérico,
desvinculando dos conteúdos de ensino. Por isso, a necessidade de um
novo profissional em aprendizagem com formação psicopedagógica
obrigatória a partir de um curso de especialização em nível de
pós-graduação, capaz de desempenhar um papel específico na ação
educativa, com uma sólida fundamentação centrada no conhecimento
científico.
Os profissionais da psicopedagogia já possuem um
órgão de classe, a Associação Brasileira de Psicopedagogia – Abpp,
criada há 17 anos com sede em São Paulo, composta por seções e núcleos
nas diferentes regiões do País.
Tendo em vista que a formação
do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter oficial nas Universidades com
muita procura, e há um grande número de profissionais formados nas
Universidades brasileiras desde a década de 1960, a regulamentação da
profissão torna-se não só legítima, mas urgente.
- CONCLUSÕES DO RESENHISTA
De um modo geral, a autora de forma sistematizada retrata a importância
da Psicopedagogia como campo de estudo da aprendizagem humana, desde o
conceito do termo psicopedagogia até a regulamentação, apoiando e
fundamentando em idéias próprias e de autores diversos.
Uma
das questões aqui descritas que necessitam ser mais bem discutidas é o
seu objeto de estudo e seu campo de atuação. Assim, a aprendizagem
humana como objeto de estudo, implica dizer que não se pode mais
conceber teorias e posturas metodológicas que enfatizam o mero
conteúdismo como fonte de toda aprendizagem humana, mas a relação deste
indivíduo com o objeto, e isto se leva a entender que o sentido também
da aprendizagem humana deve ser a relação entre sujeito e objeto.
Do ponto de vista da atuação psicopedagógica, a autora, traz de forma
categórica o trabalho do profissional no campo clínico, institucional e
científico, haja vista que estas três atribuições têm como foco o
diagnóstico, a intervenção e a produção científica, vislumbrando no
cenário educacional uma melhor aprendizagem dos envolvidos no processo
educativo, bem como a inserção da temática no contexto acadêmico.
Enfatiza também, as contribuições científicas no cenário das
Universidades pela grande procura do curso, que fortemente se expressa
pela necessidade urgente do trabalho psicopedagógico, principalmente no
campo educativo, mais precisamente no ambiente da sala de aula.
A
autora retrata ainda a discussão em torno da formação do psicopedagogo
no Brasil, amparando na Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LDB 9.394/96, que assegura uma educação de qualidade voltada para a
formação da cidadania e profissionalização. Ainda no campo da formação e
atuação frente aos desafios do ensino-aprendizagem, a obra reflete
criticamente o papel da pedagogia na resolução dos problemas enfrentados
nesta área. A Pedagogia, atualmente não consegue mais dar conta de
todas as demandas existente no campo do ensino-aprendizagem,
necessitando uma postura que vá além do pedagógico, ou seja, que
relacione o conhecimento psicológico ao pedagógico, contribuindo de
forma decisiva na articulação de alternativas de intervenção dentro do
ambiente educativo, especialmente no que se refere aos distúrbios de
aprendizagem.
A autora conclui que há uma procura de forma
intensa nas Universidades por este imenso País e fora dele pelo curso de
Psicopedagogia, não por se tratar de mais um novo curso, mas por ser
uma área do conhecimento que se preocupa com a aprendizagem humana no
seu sentido mais amplo, e que por isso acredita-se que não se torna mais
só necessário a oficialização deste profissional, mas imprescindível.
- CRÍTICA DO RESENHISTA
A obra fornece subsídios à construção do conhecimento científico, por
se tratar de uma vasta discussão em que a protagonista discute a
articulação e a construção de uma nova área epistemológica que estar por
vir.
É uma leitura que exige conhecimentos prévios para se
ter uma melhor compreensão, além de exigir releituras e pesquisas afins,
objetivando uma melhor e mais consistente interpretação do que se
discute neste campo do conhecimento.
Com estilos claros e
objetivos, a autora dá esclarecimentos sobre conceito, objeto de estudo,
atuação profissional, teorias que embasam o fazer psicopedagógico e a
oficialização da profissão, exemplificando e impulsionando uma reflexão
crítica sobre os fundamentos teóricos da compreensão do que é a
Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Finalmente com sólidos
conhecimentos em torno da questão da Psicopedagogia, a autora empenha-se
em discutir amplamente a questão da profissionalização do
psicopedagogo, a partir de análises e procedimentos científicos.
- INDICAÇÃO DO RESENHISTA
A obra tem por finalidade discutir o contexto da Psicopedagogia no
Brasil, se tornando subsídio para professores, estudantes
universitários, pesquisadores, a fim de que possam realizar planejar e
desenvolver as próprias pesquisas tanto na graduação, quanto na
pós-graduação, utilizando-se destas informações para a produção de
conhecimentos confiáveis.
Este livro, especialmente os dois
capítulos aqui resenhados, não se trata de um simples manual, com passos
a serem seguidos, mas uma gama de informações, com fundamentos
necessários à compreensão da natureza do método científico no campo da
construção do conhecimento, mais precisamente na área da aprendizagem
humana, com especificidade no campo da psicologia e pedagogia, bem como
pressupostos sistematizados que contribuem para o desenvolvimento do
posicionamento crítico, tão necessário à construção do conhecimento
científico.
Fonte:http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfnB8AL/resenha-a-psicopedagogia-no-brasil-contribuicoes-a-partir-pratica
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