quinta-feira, 23 de maio de 2013

Resumo e Resenha Crítica- A Psicopedagogia no Brasil-Nádia Bossa

  1.  
    A Psicopedagogia no Brasil - Contribuições - Nadia Aparecida Bossa (8536308850)

    CREDENCIAIS DA AUTORA



Nádia A. Bossa é Psicopedagoga, Mestre em Psicologia da Educação pelas Pontifícias Universidades Católica de São Paulo, PUC-SP, Doutora em Psicologia e Educação pela USP. No final da década de 80, e início dos anos 90, a referida autora passa de aluna a professora e depois de concluído o mestrado com uma dissertação que oficializava a existência da Psicopedagogia na PUC-SP, se tornou uma das grandes percussora da busca constante pela regulamentação da profissão do psicopedagogo no Brasil.

Obras da autora: Dificuldades de aprendizagem: O que são? Como trata-los? Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico.

  1. RESUMO DA OBRA

A resenha que será aqui descrita refere-se a uma análise crítica do primeiro e do terceiro capítulo da obra da autora.

No primeiro capítulo, Bossa apresenta o conceito do termo psicopedagogia. Seu conceito assinala de forma simples e direta uma das mais profundas e importantes razões da produção do conhecimento científico: o de ser meio, o de ser instrumento para o outro, tanto na perspectiva teórico, quanto na aplicada à prática do cotidiano.

A afirmação de que a psicopedagogia, historicamente, surgiu na fronteira entre a psicologia e a pedagogia merece maior atenção. Para se chegar a uma melhor conclusão desta proximidade, convém percorrer um caminho em que é preciso pensar sobre o seu objeto de estudo, sobre as teorias que, na interdisciplinaridade, embasam essa prática e sobre o seu campo de atuação.

As considerações com relação ao objeto de estudo da psicopedagogia sugerem que há certo consenso quanto ao fato de que ela deve ocupar-se em estudar a aprendizagem humana, porém é uma ilusão pensar que tal consenso nos conduza, a todos, a um único caminho.

É função da pedagogia pensar: O que é educar, o que é ensinar e aprender; como se desenvolvem estas atividades; como incidem subjetivamente os sistemas e métodos educativos; quais as problemáticas estruturais que intervém no surgimento de transtornos da aprendizagem e no fracasso escolar; que propostas de mudança surgem. O Sujeito que aprende é motivo de perguntas para o psicopedagogo, e destinatário de sua atividade profissional.

A definição do objeto de estudo da psicopedagogia passou por fases distintas. O objeto de estudo foi entendido várias formas; primeiro, era o sujeito que não podia aprender; segundo o fato do sujeito não-aprender é concebido e carregado de significados que explicam o seu não-aprender. A partir dessa perspectiva a evolução desta área de estudo passou a entender que o objeto de estudo é sempre o sujeito em processo de aprendizagem.

O trabalho do psicopedagogo pode ser preventivo e clínico. Podemos então falar em diferentes níveis de prevenção. No primeiro, o psicopedagogo atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a freqüência dos problemas de aprendizagem, tendo como trabalho as questões didático-metodológicas, bem como na formação e orientação dos profissionais da educação, além do aconselhamento dos pais. Num segundo momento, o grande objetivo é tratar os problemas de aprendizagem já instalados, criando um diagnóstico da realidade institucional e elaborando planos de intervenção baseados na realidade diagnosticada. E no terceiro momento, o grande objetivo é eliminar os transtornos instalados, a partir de um procedimento clínico com todas as suas implicações. No exercício do trabalho clinico, o psicopedagogo deve reconhecer a sua própria subjetividade na relação, pois se trata de um sujeito que estuda outros sujeitos.

Todo estudo sobre as aprendizagens humanas requer a necessidade de se construir teorias que fundamentam o aspecto psicopedagógico, embasando a prática tanto no que se refere ao preventivo, quanto ao clínico.

Os profissionais em psicopedagogia como quaisquer outros profissionais, sustentam sua prática em pressupostos teóricos muitas vezes distintos. A epistemologia genética e a psicanálise são necessárias para a teoria psicopedagógica, mas não se confundem com ela, cujo fim é dar conta da articulação inteligência-desejo. Considera-se que a psicopedagogia foi se materializando como um conhecimento independente e complementar, por assimilação recíproca das contribuições das escolas psicanalítica, piagetiana e da psicologia social de Enrique Pichon-Rivière.

Podemos caracterizar a psicopedagogia como uma área de confluência do psicológico, ou seja, a subjetividade do ser humano enquanto tal e do educacional, atividade especificamente humana, social e cultural.

O campo de atuação do psicopedagogo refere-se não só ao espaço físico onde se dá esse trabalho, mas também e em especial ao espaço epistemológico que lhe cabe, ou seja, ao lugar deste campo de atividade e ao modo de abordar o seu objeto de estudo. O trabalho psicopedagógico pode, certamente, ter um caráter assistencial. Isso acontece quando, por exemplo, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração, direção e evolução de planos, programas e projetos no setor de saúde e educação, integrando diferentes campos de conhecimento. A psicopedagogia ocupa-se, assim, de todo o contexto da aprendizagem, seja na área clínica, preventiva, assistencial, envolvendo elaboração teórica no sentido de relacionar os fatores envolvidos nesse ponto de convergência em que opera. Historicamente a psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem.

No terceiro capítulo, Bossa sistematiza a formação do Psicopedagogo no Brasil, numa visão epistemológica como mudança de paradigma a partir do atual contexto educacional.

A questão da formação do psicopedagogo assume nessa perspectiva um papel de grande relevância na medida em que é a partir desta formação que se processa o início da construção da identidade desse profissional.

A psicopedagogia no Brasil ainda não se concretizou como profissão do ponto de vista legal. Assim sendo, a regulamentação da profissão de psicopedagogo viria a efetivar a existência legal desse novo profissional. Um desafio está posto.

Uma outra discussão que se denota desafio à profissionalização do psicopedagogo é a sua prática psicopedagógica. A resposta para atender a este desafio é a própria prática psicopedagógica, exercida por um profissional especializado, o psicopedagogo, cuja atuação visa não apenas a sanar problemas de aprendizagem e deficiências no aparelho escolar, mas, principalmente, considerar as características muldisciplinares do sujeito que aprende, buscando melhorar seu desempenho e aumentar suas potencialidades de aprendizagem.

Para tanto, duas formas de atuação são propostas dentro da formação do psicopedagogo. A atuação da psicopedagogia clínica, visando o atendimento clínico a partir de uma investigação para compreender o significado, a causa e a modalidade de aprendizagem do sujeito, com o intuito de sanar suas dificuldades. Já a atuação psicopedagógica institucional, assume o compromisso com a melhoria da qualidade do ensino expandindo sua atuação para o espaço escolar, atendendo, sobretudo, aos problemas cruciais da educação no Brasil.

No ambiente escolar, o psicopedagogo se utiliza de instrumentos especializados, sistemas específicos de avaliação e estratégias capazes de atender aos alunos em suas individualidades e de auxiliá-los nas atividades diárias na escola. Também, este profissional, assessora a escola, alertando-a para o papel que lhe é conferida, além de reestruturar a atuação da própria instituição junto aos alunos e professores, seja redimensionando o processo de aquisição e incorporação do conhecimento dentro do espaço escolar, quanto ao encaminhamento de alunos para outros profissionais.

A psicopedagogia abrange um outro campo do conhecimento que é a produção científica, que a partir da estrutura de seus estudos sistematiza um enorme leque de questões, que abre um vasto campo de investigação de fenômenos envolvidos no processo de aprendizagem humana.

Portanto, a formação do psicopedagogo, se fundamenta a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 9.394/96 que assegura que a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Assim, a formação dos profissionais da educação ocorre em cursos de Pedagogia que, mesmo reformulados com diferentes habilitações, não têm atendido à demanda da escola. Todavia, permanece na escola um imenso vazio, pois a pedagogia, numa visão da compreensão do processo de ensino-aprendizagem, não tem contemplado as diferentes situações advindas da própria escola, como por exemplo, o desempenho do professor, os conteúdos de ensino e o processo afetivo, cognitivo, apenas justapondo informações sem conseguir articulá-las.

Nessa perspectiva, a psicologia oferece à pedagogia um conhecimento sabre a aprendizagem que considera o ser humano de um modo genérico, desvinculando dos conteúdos de ensino. Por isso, a necessidade de um novo profissional em aprendizagem com formação psicopedagógica obrigatória a partir de um curso de especialização em nível de pós-graduação, capaz de desempenhar um papel específico na ação educativa, com uma sólida fundamentação centrada no conhecimento científico.

Os profissionais da psicopedagogia já possuem um órgão de classe, a Associação Brasileira de Psicopedagogia – Abpp, criada há 17 anos com sede em São Paulo, composta por seções e núcleos nas diferentes regiões do País.

Tendo em vista que a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter oficial nas Universidades com muita procura, e há um grande número de profissionais formados nas Universidades brasileiras desde a década de 1960, a regulamentação da profissão torna-se não só legítima, mas urgente.

  1. CONCLUSÕES DO RESENHISTA

De um modo geral, a autora de forma sistematizada retrata a importância da Psicopedagogia como campo de estudo da aprendizagem humana, desde o conceito do termo psicopedagogia até a regulamentação, apoiando e fundamentando em idéias próprias e de autores diversos.

Uma das questões aqui descritas que necessitam ser mais bem discutidas é o seu objeto de estudo e seu campo de atuação. Assim, a aprendizagem humana como objeto de estudo, implica dizer que não se pode mais conceber teorias e posturas metodológicas que enfatizam o mero conteúdismo como fonte de toda aprendizagem humana, mas a relação deste indivíduo com o objeto, e isto se leva a entender que o sentido também da aprendizagem humana deve ser a relação entre sujeito e objeto.

Do ponto de vista da atuação psicopedagógica, a autora, traz de forma categórica o trabalho do profissional no campo clínico, institucional e científico, haja vista que estas três atribuições têm como foco o diagnóstico, a intervenção e a produção científica, vislumbrando no cenário educacional uma melhor aprendizagem dos envolvidos no processo educativo, bem como a inserção da temática no contexto acadêmico.

Enfatiza também, as contribuições científicas no cenário das Universidades pela grande procura do curso, que fortemente se expressa pela necessidade urgente do trabalho psicopedagógico, principalmente no campo educativo, mais precisamente no ambiente da sala de aula.

A autora retrata ainda a discussão em torno da formação do psicopedagogo no Brasil, amparando na Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9.394/96, que assegura uma educação de qualidade voltada para a formação da cidadania e profissionalização. Ainda no campo da formação e atuação frente aos desafios do ensino-aprendizagem, a obra reflete criticamente o papel da pedagogia na resolução dos problemas enfrentados nesta área. A Pedagogia, atualmente não consegue mais dar conta de todas as demandas existente no campo do ensino-aprendizagem, necessitando uma postura que vá além do pedagógico, ou seja, que relacione o conhecimento psicológico ao pedagógico, contribuindo de forma decisiva na articulação de alternativas de intervenção dentro do ambiente educativo, especialmente no que se refere aos distúrbios de aprendizagem.

A autora conclui que há uma procura de forma intensa nas Universidades por este imenso País e fora dele pelo curso de Psicopedagogia, não por se tratar de mais um novo curso, mas por ser uma área do conhecimento que se preocupa com a aprendizagem humana no seu sentido mais amplo, e que por isso acredita-se que não se torna mais só necessário a oficialização deste profissional, mas imprescindível.

  1. CRÍTICA DO RESENHISTA

A obra fornece subsídios à construção do conhecimento científico, por se tratar de uma vasta discussão em que a protagonista discute a articulação e a construção de uma nova área epistemológica que estar por vir.

É uma leitura que exige conhecimentos prévios para se ter uma melhor compreensão, além de exigir releituras e pesquisas afins, objetivando uma melhor e mais consistente interpretação do que se discute neste campo do conhecimento.

Com estilos claros e objetivos, a autora dá esclarecimentos sobre conceito, objeto de estudo, atuação profissional, teorias que embasam o fazer psicopedagógico e a oficialização da profissão, exemplificando e impulsionando uma reflexão crítica sobre os fundamentos teóricos da compreensão do que é a Psicopedagogia Clínica e Institucional.

Finalmente com sólidos conhecimentos em torno da questão da Psicopedagogia, a autora empenha-se em discutir amplamente a questão da profissionalização do psicopedagogo, a partir de análises e procedimentos científicos.

  1. INDICAÇÃO DO RESENHISTA

A obra tem por finalidade discutir o contexto da Psicopedagogia no Brasil, se tornando subsídio para professores, estudantes universitários, pesquisadores, a fim de que possam realizar planejar e desenvolver as próprias pesquisas tanto na graduação, quanto na pós-graduação, utilizando-se destas informações para a produção de conhecimentos confiáveis.

Este livro, especialmente os dois capítulos aqui resenhados, não se trata de um simples manual, com passos a serem seguidos, mas uma gama de informações, com fundamentos necessários à compreensão da natureza do método científico no campo da construção do conhecimento, mais precisamente na área da aprendizagem humana, com especificidade no campo da psicologia e pedagogia, bem como pressupostos sistematizados que contribuem para o desenvolvimento do posicionamento crítico, tão necessário à construção do conhecimento científico. 

Fonte:http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfnB8AL/resenha-a-psicopedagogia-no-brasil-contribuicoes-a-partir-pratica

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