DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: UMA REVISÃO SEGUNDO AUSUBEL, PIAGET E VYGOTSKY
João Alfredo Carrara
Por
mais de vinte anos as perguntas “como aprendemos?” e “como conhecemos?”
continuam questionando paradigmas educativos tradicionais e provocando
uma série de mudanças nos enfoques, processos e práticas educativas. Por
sua vez, esta situação renova o interesse de pedagogos, psicólogos,
filósofos e biólogos não apenas no processo de aprender como nos seus
respectivos objetos de conhecimento. As contribuições de Ausubel,
Piaget, Vygotsky, entre muitos outros, permitem ampliar nossa
compreensão sobre a aprendizagem, a cognição e os processos de
construção de conhecimentos na sala de aula, e geram reflexões em torno
do papel do docente e o ensino que propiciam estabelecer um diálogo
interdisciplinar com a pedagogia e com a didática. Neste sentido, tanto a
experiência como a investigação mostra que os processos de ensino e
aprendizagem constituem um corpo conceitual cada dia mais complexo e
interdisciplinar.
Existe
um certo consenso de que a educação deve promover o desenvolvimento
integral das pessoas e sobre a aprendizagem de determinados conteúdos da
cultura necessários para que elas sejam membros da abordagem
sócio-cultural de referência. Mesmo assim, problemas aparecem quando se
trata de explicar o que se entende por desenvolvimento e aprendizagem e
quais são as relações entre os dois processos. O desenvolvimento pode
ser considerado um processo através do qual as pessoas, a partir das
estruturas disponíveis em cada momento, se apropriam da cultura do grupo
social dentro do qual estão imersas. Se bem que o desenvolvimento das
pessoas, como diz Piaget, tem uma dinâmica interna. Isto é possível
devido às interações sociais estabelecidas entre o indivíduo e os
diferentes agentes que atuam como mediadores da cultura – pais e
docentes (VYGOTSKY, 1987).
Utilizando
este conceito de desenvolvimento, entende-se, então a aprendizagem como
um processo de construção individual através do qual se faz uma
interpretação pessoal e única da tal cultura. Desde esta perspectiva, os
processos de aprendizagem não são uma mera associação de estímulos e
respostas ou de acumulação de conhecimentos; são mudanças qualitativas
nas estruturas e esquemas existentes de complexidade crescente (PIAGET,
1990). Aprender não quer dizer fazer uma interpretação e representação
interna da realidade ou informação externa, mas fazer uma interpretação e
representação pessoal de tal realidade. Isto faz com que o processo de
aprendizagem seja único e “irrepetível” em cada caso. Esta construção
individual não se opõe à interação pessoal, pelo contrário, as duas se
complementam.
Igualmente
ao desenvolvimento, a aprendizagem é um processo interno. Ninguém pode
aprender por nós. Mas aprendemos graças aos processos de interação
social com outras pessoas que atuam como mediadores dos conteúdos da
cultura, estabelecidos no currículo escolar, graças aos processos de
interação e de comunicação com os docentes e com seus pares. A
aprendizagem cooperativa entre alunos demonstra ser também uma poderosa
ferramenta para o seu desenvolvimento.
O
conceito construtivista, como estrutura explicativa dos processos de
ensino/aprendizagem se alimentam de várias teorias, sendo a teoria da
aprendizagem significativa de Ausubel a de maior utilidade por ter sido
formulada dentro de experiências vivenciadas na sala de aula. Segundo
este autor, existem vários tipos de aprendizagem, mas deve-se procurar
incentivar a aprendizagem significativa sendo esta, por definição, uma
aprendizagem integral e relacionada com o contexto social do aprendiz. A
partir deste ponto de vista, o aprender envolve a produção de mudanças
nos conceitos prévios e que tal aprendizagem serve para continuar
aprendendo. As condições que possibilitam este processo estão
relacionadas com a pessoa (disposição e estrutura cognitiva) e com o
material (seu potencial significativo para o estudante). Aqui o aluno
assume um papel ativo no processo de reconstrução e construção de
conhecimentos (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1983).
Na
América Latina, os processos de inovação educativa encontram-se não
apenas no construtivismo, como também na longa tradição da pedagogia
popular que entende a aprendizagem como um processo autônomo, ativo e
interno de construção de novos conhecimentos que contribuem
necessariamente ao desenvolvimento integral da pessoa. Este
desenvolvimento pessoal leva a considerar de forma relacionada os quatro
pilares da aprendizagem propostos no relatório da UNESCO de Educação
para o século XXI: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser
e aprender a conviver.
Não
se pode separar os processos de aprendizagem dos processos de ensino.
Os dois são interdependentes na medida que a forma em que planificamos o
ensino é decisiva para que o aluno possa construir aprendizagens
significativas. Da perspectiva do conceito construtivista, o ensino não
consiste em transmitir conhecimentos acabados aos alunos; o que é
necessário é oferecer ajuda para que cada aluno consiga construir as
aprendizagens básicas estabelecidas no currículo escolar (PIAGET, 1990).
Assim
sendo, a função docente é desenhar e organizar experiências educativas
utilizando o princípio da centralidade do estudante como sujeito ativo
da aprendizagem. O educador atua como mediador entre o aluno e os
conteúdos que este precisa aprender, ajustando o apoio pedagógico ao
processo de cada um. Nesta perspectiva, o ensino não é um conjunto de
receitas que se pode aplicar a todos os alunos e situações
uniformemente; pelo contrário, é uma atividade dinâmica dentro do qual
intervém múltiplos fatores que impedem prever de antemão o que vai
acontecer nas aulas. Este fato obriga o professor a refletir e revisar
constantemente a sua prática pedagógica para identificar os fatores
estratégicos a serem utilizados para promover a aprendizagem
significativa de todos os alunos.
Por
parte daquele que ensina, então, a compreensão dos processos de ensino e
aprendizagem requer um conhecimento profundo de cognição, pensamento,
linguagem, inteligência e, particularmente, das atividades e processos
mentais de atenção, percepção, memória, representação, racionamento,
tomada de decisões e solução de problemas entre outros.
Além
destes aspectos, faz-se relevante o conhecimento sobre as questões
afetivas e emocionais, dada a sua importância e grande influência nos
processos de aprendizagem e bem-estar das pessoas. A promoção das
habilidades de ordem superior como a auto-regulação metacognitiva e a
criatividade também são fundamentais dentro de um mundo repleto de
mudanças e incertezas, onde cada dia o indivíduo usa informações que
demandam habilidades relacionadas com a melhoria das suas capacidades de
processamento e a utilização de estratégias que potencializam sua
capacidade de aprendizagem.
Para
concluir, é importante deixar claro que o conceito construtivista não é
suficiente para explicar a multiplicidade de fatores que atuam nos
processos de ensino e aprendizagem dentro da escola. Os docentes
precisam complementar os seus conhecimentos com teorias sobre a
organização das instituições, a comunicação, o desenvolvimento afetivo e
emocional, a pedagogia humanizadora e libertadora, entre outros, para
poder desenvolver uma ação educativa que promova não apenas o
desenvolvimento de seus alunos, como também o desenvolvimento da escola
como instituição política e socialmente coerente com o contexto regional
em que está inserida.
REFERÊNCIAS
AUSUBEL;
NOVAK; HANESIAN. Psicología Educativa: Un punto de vista cognoscitivo.
2°ed.México:Trillas,1983.Disponível no site
www.didacticahistoria.com/psic/psic02.htm
PIAGET, J. Epistemologia Genética. SP, Martins Fontes, 1990.
PIAGET, J. A linguagem e o pensamento. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
VYGOTSKY, L Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
Publicado em 17/08/2004 18:42:00
João Alfredo Carrara - Diretor Pedagógico do Colégio COC Bauru/SP; Professor Pesquisador da
Anhanguera Educacional Ltda
Especialista em Gestão Escolar; Mestre em Ciências Biológicas; Doutor em Biologia Geral e Aplicada.
Especialista em Gestão Escolar; Mestre em Ciências Biológicas; Doutor em Biologia Geral e Aplicada.
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