Epistemologia Convergente
Jorge Visca ( 1935 a 2000), nasceu na Argentina e graduou-se em
Ciências da Educação e Psicologia Social. Desenvolveu importantes
estudos, durante a jornada acadêmica, tanto em seu país, como no
exterior. No Brasil notabilizou-se por haver contribuído na formação da primeira geração de psicopedagogos.
Esse fato tem como alicerce a experiência adquirida em sala de aula,
como professor, em escolas do ensino fundamental e médio, na Argentina,
propiciando-lhe uma ampla compreensão dos problemas de aprendizagem.
Foi um dos primeiros psicopedagogos que se preocupou com a epistemologia da psicopedagogia,
e isto o levou a estudar o processo do aprender, desde os movimentos
iniciais de comunicação entre o professor e o aluno, até chegar ao
processo da aquisição da aprendizagem. Questionou o por quê algumas
pessoas compreendem facilmente uma informação e outras as interpretam
de uma maneira totalmente diferente ou erroneamente. Como o sujeito da
aprendizagem pode perceber a dinâmica desse processo ? Como o
professor/psicopedagogo pode contribuir para a aprendizagem,
considerando as diferenças individuais?
Ofereceu cursos e supervisões na área da Psicopedagogia,em vários
pontos do país e no exterior, ajudando a formação e especialização
desses profissionais. Fundou o Centro de Estudos Psicopedagógicos de
Buenos Aires, em 1977, e mais tarde, no Rio de Janeiro, Salvador e
Curitiba. Ainda em 1980, participou da criação da Associação de
Psicopedagogos de São Paulo, e, 1985, da Associação Brasileira de
Psicopedagogia.
Experiências significativas realizadas em sua militância acadêmica, culminaram com a criação da Epistemologia Convergente (1965), considerada um método clínico, destinado ao processo de Diagnóstico e Intervenção, para diferentes faixas etárias.
O paradigma da Epistemologia Convergente está fundamentada em três linhas teóricas: a Psicanálise, a Psicologia Social e a Epistemologia Genética.
Os principais representantes da primeira linha teórica foram Ana
Freud e Melanie Klein que se dedicaram a estudar crianças e,
posteriormente, adolescentes focalizando as questões do inconsciente e
suas representações. Na segunda linha teórica, Jorge Visca
fundamenta-se em Pichon Rivière, que considera o estabelecimento do
vínculo como o principal atributo no processo da aprendizagem,
caracterizando a formação do grupo operativo como uma unidade de
funcionamento na aplicação no campo psicoterapêutico e na educação. A
epistemologia genética idealizada por Piaget, complementa a terceira
vertente no embasamento da Epistemologia Convergente. Piaget iniciou
seus estudos utilizando o método clínico ou crítico, com o objetivo de
observar a lógica, tanto nas ações como das operações desenvolvidas e,
na seqüência de suas pesquisas, houve a transformação dos testes
psicométricos em provas operatórias para garantir a intenção
epistemológica e a hipótese diretriz de seus trabalhos. (Visca, 1987,
p.15).
A Epistemologia Convergente procura compreender a contribuição dos
aspectos afetivos, cognitivos e do meio sócio educacional, no processo
da aprendizagem do indivíduo e as possíveis dificuldades apresentadas,
tendo como base, a integração dos conhecimentos da psicologia genética,
da psicanálise e da psicologia social. A articulação entre as dimensões
afetivas e cognitivas do indivíduo só se completam no estabelecimento
da relação contínua dessas dimensões com o meio onde o indivíduo vive,
formando uma unidade, um sistema com características únicas. É nesse
patamar que o psicopedagogo precisa atuar, ou seja, propiciar condições
para que o aprendiz construa seu conhecimento tomando como referencial
uma postura reflexiva , isto é ´de revisão pessoal, visando `a
possibilidade da construção de novos valores, de novas concepções. Outro
fator importante nessa construção é a mediação junto ao aprendiz, para
que este, tenha a possibilidade de expressar suas idéias no grupo
desbloqueando elementos imobilizadores inconscientes que estiveram
impedindo este crescimento pessoal.
A estrutura do método contempla os seguintes itens( Visca,1987)
1. ENQUADRAMENTO
- Conhecer critérios teóricos para fixar o enquadramento psicopedagógico.
- Integrar os conhecimentos da epistemologia genética com os da psicologia dinâmica em função do enquadramento.
- Formar critérios de avaliação do agente corretor e do sujeito corrigido.
2. CONTRATO
- Conhecer os distintos tipos de contrato em função do tempo e do ambiente.
- Estabelecer critérios que permitam determinar relações entre o contrato e os princípios sanitaristas de promover saúde e prevenir a doença.
3. DIAGNÓSTICO
- Conhecer os fundamentos do diagnóstico psicopedagógico.
- Criar critérios para a administração de uma bateria mínima.
- Capacitar para diagnosticar dificuldades de aprendizagem
4. GNOSIOLOGIA
- Formar critérios de saúde e doença no campo psicopedagógico sobre a base de conceitos sociológicos, antropológicos, psicológicos e pedagógicos.
- Determinar distintas unidades de análise para estudar o vetor de personalidade da aprendizagem.
5. PROCESSO CORRETOR
- Situar o papel do psicopedagogo no contexto dos profissionais.
- Conhecer os diferentes recursos da técnica em sua aplicação individual e grupal.
- Exercitar no manejo conceitual, emocional e prático de técnicas corretoras.
Visca( 1985) em seu livro “Clínica Psicopedagógica: epistemologia
convergente” detalha o processo a ser desenvolvido para garantir a
fidedignidade dos procedimentos a serem adotados no transcurso do
Diagnóstico e Intervenção.
Um recurso utilizado diz respeito às “Técnicas Projetivas
Psicopedagógicas – pautas gráficas para sua interpretação” – que
pretende investigar a dimensão da afetividade no processo da
aprendizagem, ou seja, o estabelecimento dos vínculos e as
circunstâncias dentre as quais esta construção se opera( Visca,2008,
compilado por Rozenmacher).
A dimensão cognitiva é fundamentada e detalhada no “ Diagnóstico
Operatório na Prática Psicopedagógica” na descrição das provas
operatórias elaboradas por Piaget e seus colaboradores, entre eles,
Balder Inhelder que preocupou-se em na formalização das provas com
descrição didática destinado aos estudiosos da Psicologia e
Psicopedagogia, tanto em nível institucional como clínico( Visca,2008,
compilado por Rozenmacher).
As duas dimensões citadas acima serão descritas em material a parte,
para possibilitar o desenvolvimento da prática, com análise do conteúdo
teórico.
Referências Bibliográficas
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987
VISCA, Jorge. Técnicas Projetivas Psicopedagógicas e pautas gráficas para sua interpretação. Buenos Aires: Visca & Visca,2008.
VISCA, Jorge. O Diagnóstico Operatório na prática Psicopedagógica. São José dos Campos:
Muito bom saber. A Psicopedagogia é pouco comentada no meio educacional.
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